Ao longo da carreira, é comum que artistas enfrentem críticas relacionadas à mudança de estilo ou conteúdo. Filipe Ret é um desses nomes que, ao longo de todas as gerações, tem o seu trabalho constantemente analisado e comparado, muitas vezes sob a acusação de "ter perdido a essência". Para alguns, ele já não escreve com a mesma profundidade reflexiva que marcou seus primeiros trabalhos, gerando uma sensação de nostalgia nos fãs que o acompanhavam desde o início. Esse sentimento é frequentemente resumido na frase: “Antes ele era bom, hoje não”.
Mas será que essa crítica é realmente justa? É preciso considerar que Ret, gostando ou não, é um dos poucos artistas do rap que busca se manter relevante ao longo do tempo. Ele conseguiu sobreviver a diferentes épocas do gênero, mas não se limitou a isso, como também transitou por elas, entregando aquilo que o público pedia, sem deixar de adicionar sua própria marca. Mesmo em músicas consideradas “sem conteúdo” ele ainda inseriu linhas que faziam pensar, quase como um lembrete de que sua assinatura lírica permanecia ali, ainda que de forma sutil.
Agora, com seu novo álbum, surge a sensação de que Filipe Ret está retomando parte de sua essência inicial. Muitos apontam que algumas faixas trazem de volta o tom reflexivo e pessoais que marcaram álbuns como Audaz . Parece revisitar temas de autoestima, propósito e visão positiva sobre a vida que tanto caracterizou suas letras no passado. No entanto, isso não significa que ele está simplesmente recriando o que já fez, mas sim reinterpretando esses elementos à luz de quem ele é hoje.
É importante lembrar que a vida molda os artistas, assim como molda qualquer ser humano. Aquela máxima do “fruto do meio” se aplica aqui: falamos sobre o que vivemos, e isso é especialmente verdade para músicos. Quando no inicio, quem tem um percurso mais dificil, muitos cantam sobre os desafios da escassez; quando alcançam o topo, a narrativa se transforma para refletir novas experiências. Não é diferente. Ele cresceu, mudou, viveu coisas novas — e isso certamente transparece em sua arte.
Com esse álbum, fica a pergunta no ar: será que o “Ret do Velho Testamento” está de volta? Em uma das faixas, Uma Era , ele declara: "Inesquecível na história" . E, de facto, é inegável que Filipe Ret já deixou a sua marca no rap nacional. Se o “velho Ret” voltou ou não, talvez nem ele tenha uma resposta definitiva. Mas o que fica claro é que, mesmo entre transformações, ele continua relevante, capaz de se conectar com fãs de diferentes momentos de sua trajetória.
Talvez a questão não seja se Filipe Ret voltou a ser o artista que era, mas como ele escolhe dialogar com sua trajetória e seu público. A grandeza de um artista pode ser medida não apenas pela sua capacidade de revisitar o passado, mas também pela forma como se adapta às mudanças e suas vivências em novas narrativas. No caso de Ret, seu novo álbum parece indicar uma busca por equilíbrio entre a introspecção de trabalhos anteriores e a dinâmica mais acessível de suas fases recentes.
Essa tentativa de resgate de elementos antigos, sem abandonar a evolução pessoal e profissional, levanta uma questão relevante: até que ponto a nostalgia pode ser um recurso criativo eficaz sem se tornar uma limitação? A resposta pode estar na recepção do público, que agora tem diante de si um artista disposto a revisitar parte de sua essência inicial, mas sob a ótica de quem percorreu um caminho de sucesso e transformação. Resta observar como essas nuances serão interpretadas e absorvidas dentro do cenário do rap nacional.
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