Assim como nos versos de "A Vida é um Desafio" dos Racionais MC's “É necessário sempre acreditar que o sonho é possível, que o céu é o limite e você, truta, é imbatível”, os artistas das periferias vivem em uma encruzilhada entre o sonho e a sobrevivência. Enfrentando uma rotina cansativa de trabalhos convencionais, muitos passam horas em transportes públicos para sustentar seus projetos criativos.
Nas favelas do Brasil, a criação nasce em meio ao caos. No cotidiano exaustivo de quem trabalha com carteira assinada (CLT), muitos artistas periféricos enfrentam jornadas exaustivas de trabalho formal, pegando três ou mais transportes diários para sustentar seus sonhos. Mesmo diante dessa rotina desgastante, em um ambiente marcado pela escassez de recursos, pela violência e pela vulnerabilidade social, a arte surge como uma poderosa forma de resistência, permitindo que criadores periféricos não apenas sobrevivam, mas desafiem suas situações, reescrevendo suas histórias através da cultura. Mesmo com as adversidades à porta, consegue criar, expressar e resistir.
Para além de enxergar as dificuldades de produzir arte nesse contexto, é necessário se atentar para a influência do contexto no conteúdo que é produzido pelo artista; toda pessoa é um produto do meio em que vive e o artista não poderia ser diferente disso, teóricos como o sociólogo francês Pierre Bourdieu, quando escreveu o livro “Regras da Arte” já falava sobre a socialização da arte, isto é: as questões de ordem social da vida e do entorno do artista influenciam o seu produto final, mesmo não sendo diretamente o tema envolvido na produção. Assim sendo, podemos pensar tanto em como o ambiente e a falta de recursos produzem uma série de dificuldades para a produção, concomitantemente influenciam em um produto artístico totalmente novo refletindo as mazelas mas também a genialidade desses corpos que resistem e ressignificar seu ambiente de dificuldade em possibilidade.
Foto por: Ana Carolina FernandesE o que seria a arte desde a sua gênese senão a própria expressão da resistência? Do samba ao teatro, do trem ao ônibus, das escolas às ruas, a arte sempre teve essa incrível façanha de respirar entre as brechas. Talvez, por isso, ela sempre foi construída e reconstruída por pessoas negras.
Já dizia Lelia Gonzalez lá em mil novecentos e bolinhas, o Brasil se construiu foi em cima das nossas próprias (e únicas) expressões, e “ai” de quem ousar criticar o nosso pretuguês. Prova mais que concreta disso, a gente tira na escrita, hoje aclamada, de Carolina Maria de Jesus, a qual sob uma expressão atemporal se tornou referência para nossas crianças, jovens, adultos e mais velhos.
A criatividade expressa na arte se faz daqueles que transcrevem suas escrevivências no papel, na história contada, nos bancos dos ônibus ou naquele lambe colado que você olha todos os dias pela manhã e que, de alguma maneira, se mistura ao som tocando no fone e te faz enxergar que, apesar de tudo - e nós sabemos que esse “tudo” é muito disseminado em poucos acessos -, ainda há motivos para sorrir e para seguir.
Esse texto não é sobre a romantização do dia a dia que nos foi imposto ou sobre pensar a arte apenas como resistência. É sobre conseguir enxergar como ela está presente no nosso dia a dia e em como, no meio de todo o vai e vem de carros, motos, pessoas e horas, é essa arte que continuamente planta e rega algo em nós que nos impulsiona a seguir e, consequentemente, ser produto dela.
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