Quais são as influências sonoras e artísticas que te ajudaram a construir seu estilo?
Fye: Cara, uma referência que eu sempre tive, depois de um tempo estudando música, foi o Tupac. Ele é, sem dúvida, uma das minhas maiores influências. Acho que ele foi uma referência das minhas referências, ta ligado? Tupac era um visionário para a época dele, sabe? A forma como ele expressava o cotidiano de uma maneira muito artística assim, apesar de ser rapper, era uma parada muito melódica, uma parada mais cantada. Não só pela música, o cara também era ator, era foda, fazia de tudo, mano, então, ele é uma das minhas primeiras grandes referências. Logo depois, vem o BK. Nessa mesma vibe, ele também é visionário, muito à frente do seu tempo, assim como o Tupac. A música do BK é atemporal, tem algo muito característico, e é isso que eu admiro muito nele. Outra grande referência pra mim é o Leall. Acho que é mais por uma questão de identidade. Eu admiro muito o trabalho dele porque consigo ver nas letras dele. Eu, meus primos, a gente se identifica muito com o que ele fala, porque ele veio de um lugar muito parecido com o meu. É um cara que tá na prateleira ali do alto, com certeza, e eu admiro muito também.
E sua vivência em Duque de Caxias? Como isso influencia no seu som e na sua arte?
Fye: Desde o começo, eu sempre busquei referências nas coisas que eu via ao meu redor. O nosso estilo de vestir, a vivência do lugar... Eu não era muito de sair, sempre fui mais na minha, mas observava muita coisa. Estudei na escola do bairro, então fiz muitos amigos que já estavam envolvidos com as paradas. Acabei de ver muita coisa acontecendo, e isso serviu como referência para escrever minhas músicas. Acho que, recentemente, venho explorar ainda mais isso, porque percebi o impacto que essa realidade causa.
Quando comecei a ser notado, principalmente depois que as coisas com os Gigantes começaram a acontecer, muita gente da minha área veio me elogiar, achando incrível que eu estava conseguindo viver disso, ta ligado? Conquistando meus objetivos. Cantar nos palcos e ver de onde eu vim é muito louco, porque é como viver dentro de uma bolha. Na Baixada a gente está distante de tudo. Falta suporte, falta cultura, falta arte. Aqui é a parte mais abandonada do Rio, e eu moro no Corte Oito, que é um complexo de favelas, com a Mangueirinha e o Santuário.
O que a gente vê aqui todo dia é violência. A nossa realidade, infelizmente, é essa. A gente está preso nessa bolha, e tudo parece muito distante. Quando tentamos fazer algo, falta apoio. Não conseguimos sair dessa bolha. E, por isso, eu comecei a me enxergar como uma referência, mas não faz sentido me gabar ou me achar melhor. É mais sobre entender que o que estou conquistando é muito significativo. Mostrar para a galera o que é possível, sabe?
Eu comecei a fazer música no meu quarto, usando o celular. É esforço, é trabalho, mas é possível. Não só na música, mas na vida. A gente vê muita gente que acha que não vai sair daquele lugar, que é só aquilo. No meu álbum, eu tentei contar muito sobre essas vivências, sobre estar longe de casa, fora dessa bolha. Porque eu sei que tem muita gente da minha idade, parece comigo, que me escuta. E acho que é importante eles verem que existe um caminho, que dá pra sair disso.
A Persistência no caminho da música
Para Fye, a trajetória na música nunca foi fácil. Ele admite que a persistência é um dos maiores desafios enfrentados. “Acho que a maior dificuldade é continuar firme no que você faz, porque é muita frustração. São muitos momentos em que você pensa em desistir”, revelou.
Fye conta que já havia situações em que queria apagar tudo e abandonar a música, cogitando levar uma vida 'normal'. "Já pensei em arrumar um trabalho qualquer e deixar isso de lado, mas aí eu penso: 'tô maluco?'. A maior dificuldade foi realmente não desistir, entenda que se não for por isso, eu nem sei o que vou fazer."
A pressão de querer viver da música também é um fardo pesado, mas ao mesmo tempo, é uma motivação. "Você quer fazer o negócio acontecer porque quer viver disso, mas sabe que o caminho é complicado. É difícil manter o foco com essa pressão toda."
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