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Fye: o dot que tá vindo é do rap!

 Foto: Pepe RodriguesFoto por: Pepe Rodrigues

Entre Beats e Versos, eu me encontrei...

"Meu nome é Fábio Iuri, tenho 19 anos e sou de Caxias, do corte 8. Sou o Fye, faço música, sou artista e é uma forma de me expressar, tá ligado? Eu comecei novinho, por volta de 13, 14 anos. Fazia beat, sempre me interessei. Como eu não entendia muito as letras por ser mais novo, meu foco foi pro instrumental. Comecei a aprender tudo na internet, usando o FL Studio e vendo tutoriais. Fui aprendendo na marra, principalmente com beat de rap e trap, sem nenhuma pretensão de levar a sério.
Até então, eu não tinha feito nada meu, não tinha cantado. Nunca tinha parado pra escrever, porque eu não gostava tanto da minha voz, então nem pensava em começar a cantar. Na época, eu participava de um coletivo de beatmakers e artistas, com uma galera que fazia desenho também. A gente trocava ideia, e eles meio que me incentivaram a começar a cantar, a escrever alguma coisa e fazer um som.
Eu fiquei um pouco relutante no início, disse que não ia fazer, mas depois acabei fazendo. Na época, o estilo No Melody estava muito em alta, em 2019. Fiz uma música nesse estilo e gravei no celular mesmo. Peguei o celular, gravei, passei pro PC, fiz aquela correria. O beat já estava pronto, então mandei minha voz e soltei a música.
Surpreendentemente, deu certo logo de cara. Foi minha primeira música e bateu mil plays em sete dias no SoundCloud. Naquela época, ter esses números era muita coisa, porque só a galera que já tinha algum nome conseguia isso normalmente. Então, fiquei muito impressionado. Mas, mesmo assim, eu ainda não levava tão a sério. Eu continuei fazendo outras músicas, mas meu foco principal ainda era produzir beats. Estava passando por muitas coisas e não me dedicava tanto à música. Quando quis fazer, eu ainda estava procurando uma identidade. Nos beats, eu já tinha encontrado, mas na parte de cantar e escrever, eu ainda estava me descobrindo. Por isso, não levava tão a sério naquele momento".


Última Jogada:

"Eu tava prestes a fazer 18 anos, então estava numa correria com várias coisas: colégio, curso, e eu namorava também. Não tinha muito tempo pra focar na música, mas era algo que eu não queria parar de fazer. Esse álbum foi feito em paralelo a tudo isso. Foi uma correria, eu ainda fazia os beats, mixava, escrevia as letras e montei o conceito todo. Era algo muito independente, fiz com meus amigos, sem nenhum investimento, totalmente por conta própria. Foi nessa produção que eu realmente comecei a me encontrar artisticamente. Consegui expressar meus sentimentos nas letras e adaptar tudo pra música. Estava num momento muito acelerado na minha vida. Tinha muita coisa na cabeça, além daquela pressão de fazer a parada dar certo, e ao mesmo tempo uma incerteza. Ia fazer 18 anos, precisava arrumar um trabalho, correr atrás de grana pra ajudar em casa. Esse álbum foi praticamente minha última tentativa, sabe?"

A recepção do público?

“Eu trabalhei o álbum com muito carinho, fiz algo realmente diferente do que eu costumava fazer. Quando o álbum saiu, a recepção foi maluca. Não esperava, mas muita gente começou a me conhecer e curtiu esse meu lado mais introspectivo. Antes, eu não escrevia tanto sobre sentimentos, até porque não entendia muito. Mas quando passei a colocar isso nas músicas, o público se identificou. Muita gente chegou pra conhecer meu trabalho.”

Relatou ele.

   Foto por: Pepe Rodrigues

Foi esse álbum que te conectou com a Gigantes?

Fye: Exatamente. Esse álbum foi o que me conectou com a Gigantes. Um amigo da minha área tinha o contato do irmão do DJ Diaz, que é DJ do BK. Ele disse que ia mandar meu álbum pro irmão do Diaz, e quem sabe chegaria até o BK. E foi o que aconteceu. O Diaz ouviu, mostrou pro BK, e uma semana depois eles me retornaram dizendo que curtiram muito o álbum. Eles acharam diferente e estavam interessados em trabalhar comigo em algo.
Na época, eles estavam nesse projeto da mixtape, querendo conhecer uma galera nova para participar, dar uma elevação na cena. Não tinha nada de contrato ainda, nada muito formal, sabe? Era apenas um contato inicial para fazer algum trabalho junto. Mais pra frente é que surgiu a proposta de contrato. Foi tudo acontecendo de forma bem natural, mas foi doideira, mão.

Como foi a sensação de ser convidado para compor o selo?

Fye: Cara, até hoje eu não consigo explicar direito. Demorou pra ficha cair, sabe? As coisas estavam realmente acontecendo, mas eu não consigo descrever a sensação que eu tive. Era muita felicidade. O BK sempre foi uma referência gigantesca, principalmente depois que comecei a levar a sério e estudar a parada. Ele é um cara que eu passei a estudar de outra forma. Eu já era fã, mas não entendia muito bem o que ele transmitia nas linhas, talvez por ser novo. Certas coisas eu não tinha como entender na época. O BK sempre fez um trabalho muito complexo, e depois que comecei a produzir meu álbum, comecei a ver a arte de outra forma. Passei a entender melhor o que ele transmitia, e o respeito que eu já tinha por ele só aumentou. Eu me identifiquei com o que ele falava, tanto nas letras quanto na parte instrumental, na entrega artística, sabe? Sempre achei isso foda. Ele é um cara que eu sempre admirei e um dos meus sonhos era trabalhar com ele. Sempre pensei: “Seria muito foda se um dia eu pudesse trampar com o BK”. Mas, ao mesmo tempo, eu achava que isso estava muito distante, porque a discografia do cara mano, e pensei: “Ele não vai gostar de qualquer coisa”. Então, eu sabia que precisava evoluir muito o meu trabalho para chegar nesse nível e realizar esse sonho, até mesmo para trocar ideia com ele. Foi muito louco, mano, as coisas estavam começando a acontecer.

   Foto por: Pepe Rodrigues

Quais são as influências sonoras e artísticas que te ajudaram a construir seu estilo?

Fye: Cara, uma referência que eu sempre tive, depois de um tempo estudando música, foi o Tupac. Ele é, sem dúvida, uma das minhas maiores influências. Acho que ele foi uma referência das minhas referências, ta ligado? Tupac era um visionário para a época dele, sabe? A forma como ele expressava o cotidiano de uma maneira muito artística assim, apesar de ser rapper, era uma parada muito melódica, uma parada mais cantada. Não só pela música, o cara também era ator, era foda, fazia de tudo, mano, então, ele é uma das minhas primeiras grandes referências. Logo depois, vem o BK. Nessa mesma vibe, ele também é visionário, muito à frente do seu tempo, assim como o Tupac. A música do BK é atemporal, tem algo muito característico, e é isso que eu admiro muito nele. Outra grande referência pra mim é o Leall. Acho que é mais por uma questão de identidade. Eu admiro muito o trabalho dele porque consigo ver nas letras dele. Eu, meus primos, a gente se identifica muito com o que ele fala, porque ele veio de um lugar muito parecido com o meu. É um cara que tá na prateleira ali do alto, com certeza, e eu admiro muito também.

E sua vivência em Duque de Caxias? Como isso influencia no seu som e na sua arte?

Fye: Desde o começo, eu sempre busquei referências nas coisas que eu via ao meu redor. O nosso estilo de vestir, a vivência do lugar... Eu não era muito de sair, sempre fui mais na minha, mas observava muita coisa. Estudei na escola do bairro, então fiz muitos amigos que já estavam envolvidos com as paradas. Acabei de ver muita coisa acontecendo, e isso serviu como referência para escrever minhas músicas. Acho que, recentemente, venho explorar ainda mais isso, porque percebi o impacto que essa realidade causa.

Quando comecei a ser notado, principalmente depois que as coisas com os Gigantes começaram a acontecer, muita gente da minha área veio me elogiar, achando incrível que eu estava conseguindo viver disso, ta ligado? Conquistando meus objetivos. Cantar nos palcos e ver de onde eu vim é muito louco, porque é como viver dentro de uma bolha. Na Baixada a gente está distante de tudo. Falta suporte, falta cultura, falta arte. Aqui é a parte mais abandonada do Rio, e eu moro no Corte Oito, que é um complexo de favelas, com a Mangueirinha e o Santuário.
O que a gente vê aqui todo dia é violência. A nossa realidade, infelizmente, é essa. A gente está preso nessa bolha, e tudo parece muito distante. Quando tentamos fazer algo, falta apoio. Não conseguimos sair dessa bolha. E, por isso, eu comecei a me enxergar como uma referência, mas não faz sentido me gabar ou me achar melhor. É mais sobre entender que o que estou conquistando é muito significativo. Mostrar para a galera o que é possível, sabe?

Eu comecei a fazer música no meu quarto, usando o celular. É esforço, é trabalho, mas é possível. Não só na música, mas na vida. A gente vê muita gente que acha que não vai sair daquele lugar, que é só aquilo. No meu álbum, eu tentei contar muito sobre essas vivências, sobre estar longe de casa, fora dessa bolha. Porque eu sei que tem muita gente da minha idade, parece comigo, que me escuta. E acho que é importante eles verem que existe um caminho, que dá pra sair disso.

A Persistência no caminho da música

Para Fye, a trajetória na música nunca foi fácil. Ele admite que a persistência é um dos maiores desafios enfrentados. “Acho que a maior dificuldade é continuar firme no que você faz, porque é muita frustração. São muitos momentos em que você pensa em desistir”, revelou. 
Fye conta que já havia situações em que queria apagar tudo e abandonar a música, cogitando levar uma vida 'normal'. "Já pensei em arrumar um trabalho qualquer e deixar isso de lado, mas aí eu penso: 'tô maluco?'. A maior dificuldade foi realmente não desistir, entenda que se não for por isso, eu nem sei o que vou fazer."
A pressão de querer viver da música também é um fardo pesado, mas ao mesmo tempo, é uma motivação. "Você quer fazer o negócio acontecer porque quer viver disso, mas sabe que o caminho é complicado. É difícil manter o foco com essa pressão toda."

 Foto por: Pepe Rodrigues

A Dança no passado de Fye

Surpreendentemente, o que nem todos sabiam é que a trajetória artística de Fye começou em um outro elemento do hip-hop. 
“Pouca gente sabe disso, você é a primeira pessoa a quem estou contando essa história”, ele confessa. A dança, no entanto, não foi apenas um hobby. "Eu levava a sério, a gente se apresentava em vários lugares, e era algo que me conectava com a arte desde cedo."
Essa conexão com o movimento e a música ainda está presente no que ele faz hoje, mas agora em outro formato. “A dança abriu portas na minha mente para entender o ritmo, o público, e isso acabou influenciando como meu comportamento no palco hoje. Eu percebi desde cedo que o palco era um espaço de expressão.”

Fye descreveu a sensação de estar no palco como algo único: É inexplicável. Quando eu estou lá em cima, parece que a mente dá um apagão e eu viro outra pessoa. Cada show que passa, eu vejo a galera curtindo mais, cantando minhas músicas. Isso é muito foda, não tem nem como explicar, ver o pessoal na plateia cantando junto, sem precisar falar nada, é uma das melhores sensações, isso me dá ainda mais vontade de continuar e evoluir.

A Cena do Rap e Trap no Brasil

Quando questionado sobre sua visão da cena do rap e trap no Brasil, Fye é enfático ao apontar a representatividade crescente. "Eu vejo muita representatividade agora. Antigamente, o rap era muito diferente, e falo isso como alguém da Baixada. A gente sabe como as coisas chegam muito depois por lá", ele reflete.
Fye conta que começou a ouvir rap em 2016 ou 2017, mas naquela época, o gênero ainda enfrentou resistência. “Eu tentei mostrar rap para as pessoas, e elas acharam que era música de maluco, o rap nacional estava passando por uma transição, ainda era muito branco naquela época."

Ele menciona o impacto de artistas como BK, Djonga e Baco na cena. "Quando esses caras chegaram, trouxeram uma vivência diferente, mas ainda assim eram um pouco distantes da minha realidade. Eles falavam de Catete e Lapa, que eram muito longe da minha casa. Hoje em dia, essa crescente do trap de cria, muita gente consome, ta brigando ali nos tops com o sertanejo, cresceu muito, e agora está no mainstream", ele conclui, orgulhoso do caminho que o gênero tem trilhado e do que ainda pode conquistar."
FYE acredita que pode contribuir para a cena do trap e rap não só com sua música, mas sendo uma referência positiva para outros jovens:
"Assim como os menores que são referência pra mim, quero ser uma boa referência também. Quero mostrar que a gente pode evoluir muito e entregar o nosso melhor sempre. Isso é o que eu estou buscando, espero transparecer isso na minha arte."

Próximos Passos: Lançamentos e novo álbum

"Meu próximo lançamento, DOT, tá saindo logo. A gente fez um clipe que está sendo editado e, pelo que já vi, superou todas as minhas expectativas. A gente trabalhou com muito cuidado pra não fazer algo comum. Queremos construir uma imagem, e acho que esse clipe vai mostrar isso. O clipe foi dirigido por Pepe Rodrigues, e todo mundo trabalhou junto. Estou muito ansioso para mostrar esse trabalho. Depois de DOT, foco total no álbum. Já está em 60%, só falta regravar algumas músicas e fazer os ajustes finais. Estou trabalhando nisso há muito tempo, então quero que seja perfeito."

FYE finaliza uma conversa com entusiasmo sobre o que está por vir e a sensação de estar no caminho certo:
"Estou ansioso pra mostrar tudo que venho fazendo. Meus últimos lançamentos foram músicas mais antigas, mas agora estou trabalhando em algo totalmente diferente. Acho que esse próximo trabalho vai mostrar pra galera onde eu quero chegar."


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