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"Meu oxigênio virou a música": A jornada de Velli na música independente!

Walber, mais conhecido como Velli, é um nome crescente no cenário do rap independente no Rio de Janeiro. Com uma história de vida marcada pela força das culturas periféricas e pelo amor à música, ele se consolidou como um dos principais articuladores de novos talentos da música urbana. Em uma conversa aberta e inspirada, Velli disserta sobre sua jornada, desafios e visão diante o mercado musical independente.

Um pouco da história pessoal de Velli

"Eu sou filho de uma nordestina paraibana e de um carioca de sangue mineiro. Cresci na favela, morando na Vila Aliança na Zona Oeste e depois na favela Para-Pedro na Zona Norte do Rio. A paixão pela música sempre esteve presente. Embora eu tenha me envolvido mais com samba, funk e forró na infância, foi na adolescência que o rap se tornou minha maior paixão e literalmente salvou minha vida. EPSJV da Fiocruz, uma das maiores instituições científicas do mundo. Isso me deu uma nova perspectiva sobre pesquisa e outras questões que se aplicam em tudo o que faço."

Qual foi a motivação inicial para criar um veiculo de comunicação especializado em musica independente, no rap?

- A principal motivação veio de uma necessidade de valorizar o esforço, não necessariamente o meu, mas da cultura que eu tava inserido aqui no RJ e dos meus amigos que faziam rimas surreais, mas que não tinham onde mostrar isso sem ser na rua... Eu desde 2011 já compunha e de 2014 em diante me envolvi mais nesse cenário que tava ganhando um corpo maior na época. E nessas idas e vindas entre a Zona Norte e a Zona Oeste criei amizades pra vida com pessoas muito talentosas, mas que não tinham espaço além da rua, além da margem da cidade né, e a partir disso pensei "po, se ninguém... nenhum veículo de comunicação, vai vir aqui mostrar esses talentos que eu fico maluco vendo eles rimarem... bom, então vou fazer meu próprio veículo de comunicação". Em 2019 e criei a RAPVIBE que depois virou Storyvelling, e hoje possuo alguns outros veículos (ou já tive no decorrer dos anos) que abordavam principalmente cultura periférica, e isso inclui música, moda, cinema...

  • Responde ele.

A caminhada no marketing e criação de conteúdo para artistas

"Comecei a rimar e ajudar com arte e produção de rodas culturais em 2014. Em 2015, fizemos uma roda cultural em Manguinhos com Xamã, Major RD e outros artistas que ainda estavam no início. O mercado estava se construindo e tudo era na base da vontade de mostrar o trabalho. Quando fundei o RAPVIBE em 2019, foi também para deixar o trabalho de camelô e viver do que eu amo Pablo, fundador do RapForte, foi o primeiro a apostar em mim, e depois o Nardoni da RapMídia me deu. mais espaço. Com o tempo, fui realizando trabalhos com artistas, montando projetos importantes, até que em 2021/22 eu já estava inserido em vários setores do mercado."

  • Diz Velli.

O papel da comunicação na promoção de artistas independentes

"A comunicação é fundamental na construção, manutenção e amplificação do trabalho de qualquer artista. Para o artista independente, é a única arma, além do próprio talento, que ele tem. Com a internet, hoje qualquer pessoa pode criar sua comunidade e se abrir ao mercado, sem depender das gravadoras como antes. Se você não fala com seu público e não dá atenção a ele, por que ele deveria dar isso em troca?"

  • Alerta Velli.

Quais são os maiores desafios que os artistas independentes enfrentam ao tentar comercializar sua música?

- Os principais desafios passam muito pela falta do auto-conhecimento ou auto-análise e a questão da informação. Antes de entrar na problemática comercial o artista independente deve olhar pra sua vida e entender o que ele realmente quer com a sua arte, "estourar" não é objetivo, "sucesso" não é objetivo... Digo isso porque não adianta nada você investir em algo que nem você sabe pra que direção vai, então é traçar todas as possibilidades dentro da SUA realidade, se conhecer e entender suas expectativas no detalhe é fundamental. Posteriormente a isso entra a questão da informação, infelizmente não tem o que fazer, é estudar pra não dar mole. Pro bem ou pro mal o artista independente não vai ter quem leve a frente seu projeto, então é ele mesmo quem vai desenhar estratégia de lançamento, a comunicação, ir procurar fazer show as vezes de graça, estudar as questões jurídicas de uma obra fonográfica (pra não ser enganado nem enganar), entender como funcionam contratos pra não ser pego de surpresa (ou se encantar muito) quando receber um, ele quem vai aprender a se inserir comercialmente nos lugares... Definitivamente é um ser um Julius, até que chegue um momento em que esse artista independente consiga começar a construir uma rede da qual ele já não precise olhar pra todos esses aspectos, até lá é disposição e equilibrar a vida com o sonho pra não se frustrar. Mas pense assim, você vai aprender muito sozinho e isso no futuro vai te tornar um artista sustentável, do qual você tem todas as perspectivas de um trabalho musical, e isso te torna uma pessoa melhor também.

  • Responde ele.

Qual a importância de estratégias de marketing criativas para artistas independentes sem grandes orçamentos?

- A importância ta nítida na pergunta inclusive, porque se você não tem orçamento é justamente uma estratégia criativa de marketing que vai te dar o que o orçamento em tese compraria através de serviço. Ela é criativa porque não pode usar moldes convencionais ou conservadores pra se promover esse trabalho, tendo em vista que a realidade de cada projeto é distinta e por isso se deve a ela um olhar personalizado, atual e condizente com a realidade de Brasil e da falta de caixa (R$). Ela é uma estratégia porque por mais que, nesse caso, seja voltada para o artista independente, ainda assim ele tem objetivos pontuais e precisa cumprir com as datas, demandas e demais ações do projeto (até pra se ter uma performance melhor em todas as frentes). E ela é exclusivamente sobre marketing porque é principalmente ali onde o artista independente vai ter sua breve oportunidade de comercializar, cativar novos público, manter seus fãs, aumentar números, se satisfazer (ou não) com feedbacks e ainda se abrir para oportunidades, tudo isso junto e no mesmo lugar.

Quais são os erros mais comuns que você vê artistas independentes cometendo ao tentar comercializar sua música?

- Acredito que o principal erro é não se promover o suficiente e nem cuidar das redes/plataformas, porque todas as outras questões que eu for falar dependem de algumas coisa, mas se promover não. Já cansei de ouvir um som maneiro, as vezes querer chamar a pessoa pra um evento, ou pra tocar em algum lugar, ou até colocar essa pessoa em contato com alguém que pode somar sabe... Mas ai tu vai ver o perfil do artista é privado (?), ou não tem informação nenhumas sobre o trabalho dele, ou tu entra em contato e a pessoa nunca responde, ou tu vê que a pessoa não se esforça pra falar do que ela fez...Tipo, se você é artista independente, você mais que ninguém tem que bater no peito e falar que fez algo fod# sem muito recurso, senão na minha cabeça você é um artista que não quer viver de música e sim viver a música (oque não é um problema), mas te restringe comercialmente. Então se promova e mostre que tem interesse. Paralelo a isso um outro problema seria um que a gente já falou, a questão da informação. Se você sabe o mínimo do jurídico da sua obra tu não vai dar mole, não vai assinar contrato bobo de advance, não vai prejudicar outros amigos artistas porque registrou coisa errada, vai ter sempre sua obra resguardada, vai saber se posicionar pra vender seu peixe sem fechar completamente aquela porta mesmo que receba um não de primeira...

  • Responde ele.

Impacto de um veículo de comunicação na adição de um artista independente

"Um veículo de comunicação tem um impacto gigante. O artista independente está competindo com milhares de outros artistas, e construir sua comunidade sozinho pode levar uma vida inteira. A mídia independente já tem a atenção do público, e o artista só precisa se inserir ali. Isso encurta muito o caminho e aumenta a visibilidade."

  • Alerta Velli.


O principal equívoco dos artistas: Enxergar a mídia como adversários

"Eu acredito que a mídia não deve enxergar o artista independente como 'pedinte' e o artista independente não deve enxergar a mídia como 'aproveitadora'. Falando exclusivamente do artista independente, é como eu disse: a mídia já fez o que, em tese, o artista está batendo cabeça para fazer, que é criar comunidade, ter alternativa e conexão com as pessoas."

Essa afirmação de Velli vai ao ponto central de uma relação muitas vezes mal compreendida. A mídia, principalmente a independente, desempenha um papel estratégico na amplificação do trabalho dos artistas, mas o ponto de partida é uma visão mútua de respeito e igualdade.

“A mídia não tem que ser vista como um rival maligno da indústria”, destaca ele. Tanto a mídia independente quanto os artistas enfrentam desafios semelhantes: é preciso fazer dinheiro, manter o público e construir uma base sólida.

“Mesmo que um veículo de comunicação não abra espaço imediatamente, só uma troca de ideias já pode beneficiar o artista, se ele conseguir ouvir. A mídia não é um rival maligno da indústria; A mídia independente, em particular, deve ser vista como uma plataforma estratégica para ampliar seu trabalho, assim como o artista independente tem suas próprias necessidades. Ambos estão no mesmo jogo, enfrentando desafios semelhantes.”

A falta de compreensão sobre a mídia como ferramenta de visibilidade

Você acredita que há uma falta de compreensão geral entre os artistas independentes sobre como a mídia pode ser um recurso importante para aumentar sua visibilidade e alcance?

"Completamente", responde Velli sem hesitar. "Isso passa muito pelas questões sociais que mencionei, principalmente quando falamos de gêneros musicais urbanos. O artista independente no trap ou no funk vem majoritariamente da periferia, e a negligência com a saúde, a economia e a segurança já ferem bastante essas comunidades. Mas a negligência com a informação você paralisa de tal modo que você não consegue se mover, mesmo nas condições ideais."

Para Velli, essa barreira de entendimento entre artistas independentes e a mídia está profundamente enraizada em problemas sociais e culturais. Muitos desses artistas estão crescendo em ambientes onde a mídia tradicional nunca deu atenção, o que gera desconfiança. "É difícil imaginar uma relação honesta e estratégica com algo que nunca te deu espaço por você vir de onde veio ou cantar o que canta, viver o que vive."

No entanto, ele reforça que, uma vez que o artista se coloca numa posição de conversar com veículos de comunicação — em especial com a mídia independente, que compartilha desafios semelhantes —, a visão se torna mais clara.

Na sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados pelos criadores de conteúdo ao trabalhar com artistas independentes, e como você os supera?

"Acredito que o principal desafio passa pela questão de valorização e de enxergar o outro como igual. O artista independente precisa entender que o criador de conteúdo tem necessidades sensíveis, assim como o próprio artista. No fim das contas, ambos são artistas: ambos precisam mostrar seu trabalho bem feito, ambos precisam ganhar dinheiro”, explica Velli.

Essa relação, segundo ele, precisa ser construída com base na reciprocidade. "Se aquele criador está fazendo para o seu trabalho, não é só por amor; ele enxerga algo em você. E isso é especialmente verdadeiro se não há uma relação comercial desenvolvida entre ambos. O mínimo que o influenciador espera é que você acredite de volte e entenda que, em certos momentos, ele pode precisar te dizer 'não'."

Para Velli, essa dinâmica é muito mais do que uma relação comercial, é uma troca baseada em respeito mútuo. "O artista não precisa ir procurar o veículo de comunicação ou o criador de conteúdo apenas quando ele vai lançar uma música. E se ele tem dinheiro para investir em um criador, que invista naquele que sempre o fortaleceu. A solução para esses desafios é a comunicação honesta: é fundamental separar o que é amizade do que é parceria estratégica."

Estratégias para aumentar o engajamento e a visibilidade nas plataformas digitais

Como você aborda a criação de conteúdo para artistas independentes, planejando aumentar o engajamento e a visibilidade nas plataformas digitais?

"Hoje, faço esse trabalho em um ritmo menor, mas sempre que fiz, minha abordagem teve dois focos principais: construir comunidade (e isso inclui manter o que já existe) e apresentar o artista para o máximo de pessoas possíveis através das redes sociais, " diz Velli.

Para ele, é fundamental que o conteúdo seja atraente tanto para ele, quanto para o artista e, claro, para o público. "O conteúdo em si precisa ser atraente para mim, para o artista (para não perder o foco do objetivo principal) e precisa chamar a atenção do público."

Velli destaca que, após definir esses pilares, é preciso testar formatos e linguagens. "Você consome referências e traduz isso para a sua linguagem. Além disso, é tão importante quanto criar conteúdo que tenha a ver com a realidade do artista é saber ler o retorno que esse conteúdo está gerando. Isso ajuda a entender o que funciona especificamente para aquele artista e para aquela comunidade."


Velli é um exemplo claro de como perseverança, visão estratégica e amor à arte podem mudar realidades e abrir portas. Sua trajetória no rap e na comunicação é uma inspiração para todos que buscam um lugar no mercado musical, especialmente aqueles que pertencem à periferia e enfrentam desafios diários. Mais do que isso, ele nos mostra que a comunicação é a chave para potencializar vozes e histórias que merecem ser ouvidas.

Essa foi uma conversa que, além de trazer conhecimentos valiosos sobre a indústria musical, reforça a importância da comunicação, da persistência criatividade e do no universo artístico. Para mais entrevistas como essa, fique ligado no Vandalize!


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