Foto divulgação: Acervo do artista |
Nesta entrevista, que faz parte do nosso editorial de maio com o tema "Cena em Som", traremos entrevistas de diversas personalidades do audiovisual da musica, e nessa primeira mergulhamos na trajetória de Ramires Ax, um talentoso videomaker que tem contribuído significativamente para a cena do rap na Bahia. Conheça a história inspiradora de Ramires, desde seus primeiros passos no Coletivo NaCalada até a criação de sua produtora EmQuadrado Audiovisual. Ele compartilha seus desafios, conquistas e a visão sobre o impacto do audiovisual na música e na cultura local. Acompanhe como o audiovisual se tornou uma poderosa ferramenta de expressão e transformação social nas mãos dele.
Como você começou sua jornada e o que a inspirou a focar no cenário do rap na Bahia?
Eu já fazia beats, rimava e afins… mas em 2014, eu juntamente com Devon e Tyro (integrantes do até então grupo N’ativa) decidimos fundar o Coletivo NaCalada onde já tínhamos o monstro do Dactes nas produções, rec, mix e master. No entanto, não tínhamos videomaker, então como eu já tinha algumas experiências com o Sony Vegas 8, decidi me tornar a pessoa que faria os vídeos do coletivo. O que me fez focar 100% nisso foi quando minha casa foi invadida e levaram todos meus equipamentos musicais e o notebook que já tinha alguns passos de produções audiovisuais. Então, decidi unir o gosto por isso e a determinação para começar a fazer clipes de pessoas que gravavam no estúdio do NaCaladaRec e, desde então, nunca mais parei.
O que é audiovisual para você?
Cara, pra mim se tornou possibilidade… nunca imaginei que essa seria minha profissão, apesar de que meus familiares sempre diziam que eu sempre brincava com a filmadora da família nos samba de roda que tinha nos aniversários e tudo mais. Então, hoje em dia, o audiovisual é possibilidade: possibilidade de me manter vivo, de me sentir vivo, de fazer a arte dos outros viva através do meu olhar.
Maiores desafios:
O meu maior desafio no começo foi fazer os meus familiares entenderem que eu não estava brincando, que o que eu fazia daria retorno financeiro. Hoje em dia, é investir para trazer mais qualidade possível, mesmo fazendo tudo sozinho dentro da minha produtora que é a EmQuadrado Audiovisual.
Quando você coloca um audiovisual na pista, o que você espera? Há algum impacto específico que você visa gerar?
De primeira, eu sempre me preocupo se o artista realmente imprimiu o que tanto deseja no material, pois antes de tudo, fazemos algo sempre em prol da identidade do artista. Em seguida, eu sempre vejo os primeiros comentários pra ver se as pessoas realmente se identificaram com o conjunto da obra. Se as pessoas falam do conjunto, que o clipe e a música ficaram foda, eu sinto que a missão foi concluída com sucesso.
Mudança Social e Cultural:
Eu sou “menino de ONG”, estudei na escola de arte e tecnologia chamada Oi Kabum (extinta atualmente), mas se não fosse o audiovisual na minha vida eu não sei o que eu faria atualmente. Então, eu super acredito que o audiovisual é um meio que permite que o jovem conte sua história de outra forma, mesmo que ainda seja um meio muito elitizado, com equipamentos caros e afins. Assim como o Rap, hoje é mais acessível e democrático, com celular conseguimos contar histórias fodas. Basta ter mais incentivos, oficinas e afins. Inclusive, já dei oficinas de audiovisual em escolas públicas e acho que em breve projetos como esse colocarei em prática novamente, pois a partir de alguma ideia despertada na mente de alguém, podem nascer conteúdos incríveis.
Como você observa o desenvolvimento do audiovisual na cena do rap?
Em crescente, tanto em qualidade quanto em estética. Fico contente com isso. Hoje tem diversos nomes que têm um trampo foda, como a Larinhadorec, Aquila Oliveira, Diego Trindade, Rezzende, VulgoJr, entre outros que estão quebrando e amassando nas produções. Isso me deixa feliz, porque há 10 anos, que é o tempo que eu tô na pista, a gente não sabia com quem contar pra gravar um clipe de um artista que estava começando ou que já estava há anos na pista. Hoje, a gente ter essa pluralidade diversa é o que mais me deixa alegre, pensando enquanto rapper também.
A gente tá ligado que a Bahia é o berço de produção de vários aspectos culturais. Você percebe que há um ponto em comum sobre a produção audiovisual de clipes aqui?
O ponto em comum é a capacidade de fazer muito com pouco. A gente tem a habilidade de fazer o pouco ser muito. Lembro que quando gravamos o clipe "Pretx Chave" da Underismo, eu não sabia nem que a música existiria um dia antes de gravar o clipe. Nem era eu que iria gravar, não tinha roteiro, só a data, local, pessoas afim de fazer a parada e a fé de conseguir fazer algo foda, que foi o que houve. Gosto até de citar o menino Glauber Rocha: “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” porque é o que fazemos aqui. Até sangue a gente derrama pra produção sair da melhor forma possível.
Qual é a importância do audiovisual na música, especialmente no rap, e como você vê seu papel nessa interseção?
Acho que o visual é um complemento do áudio. O áudio vem sempre na frente, o visual tem que acompanhar ele, tem que ter a captura da mesma energia que foi a da gravação da música. Meu papel é fazer com que isso seja fiel tanto para o artista quanto pra mim, que querendo ou não sou o primeiro telespectador do material. Tem que bater a vibe no artista, e tem que bater em mim para que a gente tenha certeza que vai bater no público e o público entender melhor qual foi a energia que o material como um todo tem.
Como você acha que o audiovisual pode contribuir para ampliar a visibilidade e o impacto do rap da Bahia além das fronteiras locais?
Para os artistas daqui, mostrar que aqui a gente tá em pé de igualdade tanto no rap quanto no audiovisual. Não precisa ir para o eixo para se ter um material de qualidade. Para o público, mostrar que o rap da Bahia é tão profissional quanto o de outras regiões do Brasil e que aqui é o começo de muita coisa, até do cinema, de Glauber Rocha, Lázaro Ramos a Larinha do Rec, VulgoJr...
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