O baobá é uma árvore majestosa e icônica que cresce em várias regiões da África, Madagáscar e Austrália. Também é conhecida como "árvore-da-vida" devido à sua longevidade impressionante e papel vital para as comunidades que a cercam. O baobá é conhecido por armazenar grandes quantidades de água em seu tronco durante as estações secas, permitindo que sobreviva em ambientes áridos. Além disso, suas folhas, frutos e sementes são utilizados para fins medicinais e alimentares pelas populações locais. A árvore do baobá é carregada de significados culturais, sendo símbolo de sabedoria, resistência, proteção e conexão com as raízes ancestrais, enraizando-se como uma verdadeira lenda viva na paisagem africana.
A conexão entre a árvore baobá e o cenário musical da Bahia é notável. Assim como a baobá, a música baiana floresce e resiste em meio à escassez e adversidades. A criatividade é abundante, alimentada pelas raízes profundas de uma cultura rica e diversa. Como a árvore-da-vida, nossa música é uma fonte de resistência, sabedoria e conexão com nossas origens ancestrais. Apesar das tentativas de apropriação, nossa autenticidade se mantém firme como um farol, guiando e iluminando o caminho para um futuro onde a valorização das nossas criações culturais seja uma realidade inquestionável. Somos como a baobá, enraizados e imponentes, cultivando uma identidade musical única que ressoa além das fronteiras da Bahia.
A indústria e a mídia nem sempre têm dado o devido destaque à rica e diversa produção artística da Bahia, muitas vezes nos deixando à margem.
No cenário do rap, talentosos artistas como Matuê, Jovem Dex, Alee, Leviano, e tantos outros têm elevado a cena musical do rap baiana para patamares nacionais e internacionais.
Além desses destaques, há uma infinidade de talentos na cena local que merecem reconhecimento. Contudo, é essencial lembrar aqueles que pavimentaram o caminho, como o grupo É o Tchan, que enfrentaram a desclassificação pela mídia, rotulados erroneamente como Axé Music. Os baianos sabem que esses artistas contribuíram para muito mais do que o gênero que lhes foi imposto.
Poderia citar inúmeros nomes que geram criatividades na nossa cena, precisamente no trap, drill ou pagode e a fusão desses estilos tem gerado vertentes criativas, como o PagoTrap e o BahiaDrill, enriquecendo ainda mais a cultura musical do estado.
Salvador, conhecida como a "Cidade do Carnaval", recebeu um prestigiado reconhecimento internacional ao ser apontada como a única cidade brasileira entre as 50 mais musicais do mundo. No entanto, esse destaque contrasta com a realidade local, onde os artistas e a música produzida na terra natal nem sempre são valorizados como merecem.
Segundo pesquisa do SeatPick, maior mecanismo de busca de bilhetes e mercado de ingressos para eventos ao vivo. A capital baiana teve destacados pela empresa 11 espaços que possuem uma atmosfera propícia para a realização de shows.
Mas onde estão os artistas locais nesses espaços? Remunerados de forma correta? Sendo reconhecidos pela sua arte?
Ainda há uma subvalorização dos talentos locais. O maior carnaval do planeta acontece aqui, mas quantos trios saem em horário de grande movimento com artistas da cidade? A mídia, muitas vezes, maceta essa informação, dando prioridade a artistas de fora, negligenciando a riqueza artística e cultural dos baianos que são os verdadeiros responsáveis por fazer o carnaval acontecer.
Em outros eventos, a discrepância dos cachês entre artistas locais e os trazidos de fora é gritante, gerando desigualdades e injustiças na indústria musical. Enquanto isso, o que está sendo feito para proteger e preservar as vidas e obras desses talentosos artistas que contribuem para a identidade cultural de Salvador?
O desabafo da renomada artista Mariene de Castro, há pouco tempo atrás reflete o sentimento compartilhado por muitos outros músicos que enfrentam a falta de oportunidades e reconhecimento em sua própria cidade.
"Nasci na cidade que nunca deu espaço à música que faço."
Desabafou Mariene.
Mariene também chamou a atenção para os valores de cachês pagos a outros artistas, e enfatizou:
"A cor dessa cidade não sou eu! O canto dessa cidade não é meu!"
As palavras de Mariene ecoam como um grito de indignação e um apelo por justiça e igualdade na indústria musical e cultural de Salvador. Ela coloca em evidência uma triste realidade: a falta de representatividade e valorização dos artistas locais, especialmente aqueles de origem negra, que são fundamentais na construção da identidade musical e cultural da cidade.
Já passou da hora de intensificar o debate, dar destaque ao talento local, valorizar a música produzida na Bahia e garantir que esses artistas tenham o devido apoio e espaço. É preciso romper com a lógica que privilegia o que vem de fora e enaltecer o que é genuíno, autêntico e feito com amor em solo baiano. Salvador merece honrar sua vocação musical e celebrar seus artistas como verdadeiros embaixadores de sua cultura e história.
Até quando Salvador será conhecida como "cidade da música" sem, de fato, valorizar seus artistas locais?
Apesar de possuir espaços ideais para shows e abrigar o maior carnaval do planeta, a desvalorização dos talentos locais persiste. A disparidade nos cachês e oportunidades entre artistas locais e os trazidos de fora é evidente e desalentadora. É essencial que a cidade da música honre seu título, dando espaço e apoio aos músicos que contribuem para a identidade cultural de Salvador.
Vandalize nas Redes