O 08 de março conhecido internacionalmente como o dia da mulher, emerge a partir de manifestações realizadas, em sua maioria, pela defesa de pautas de mulheres brancas que visavam a conquista por direitos na sociedade, e é marcado pelo incêndio em uma fabrica têxtil que levou à morte de muitas dessas mulheres.
Ainda que não abarcasse as pautas de mulheres em sua diversidade, como as das mulheres negras, temos a data de hoje enquanto algo politico, que viabiliza exatamente uma reflexão acerca dos lugares ocupados por diferentes mulheres na sociedade atual. Assim, na visão de que a música é também um instrumento de expressão política, consideramos que ela possui relação direta com o 08 de março por refletir o cenário social da atualidade.
Desde tempos distantes, é possível verificar o papel transformador que a música, em seus mais diversos gêneros, assume. E também não é de tempos recentes que o rap e o pagode vem viabilizando a reafirmação de jovens negres nas diversas periferias do Brasil. Do rap ao pagode, as letras escritas e expostas de maneiras ritmadas refletem vivências e visões que atravessam gerações. É o ar que se respira nas diferentes comunidades, os fones nos ouvidos, o incentivo para dar mais um passo a cada dia. É a trilha sonora da busca pela realização de sonhos cotidianos. O pagode e o rap sempre foram instrumentos de salvar vidas de meninos negros.
Ao mesmo tempo, as cenas do rap e do pagode, enquanto espaços de propagação de ideias e visões constituídas majoritariamente por homens, ao mesmo tempo em que faziam/fazem um forte enfrentamento ao racismo e demais opressões, por muito tempo colaboraram/colaboram para a propagação de uma hipersexualização e invisibilização de mulheres na cena, o que ainda é perceptível quando observado o reconhecimento social de mulheres nas grandes produções.
“Eu percebo que os homens abraçam homens. Para nós, mulheres, eu sinto que é mais difícil para as pessoas abraçarem. Uma outra coisa é que as produtoras imaginam que a gente fazer show é só por visibilidade e muita gente não quer pagar mas, na verdade, estamos fazendo um investimento” - Rapper Ororo em matéria publicada na Folha de Pernambuco.
Sendo o pagode e o rap instrumentos de (re)existência pautados na expressão e manifestação, principalmente de jovens negres, se atentar à maneira como a reprodução dessa invisibilização afeta negativamente a própria população negra como um todo é o ponto principal para entender a necessidade dessa discussão e olhar ampliado.
Diante disso, é importante pegar a visão dessa “hiper” valorização de homens nas cenas enquanto “hiper” invisibiliza a produção e sons de mulheres cis, e principalmente trans e travestis, visto que nos dizeres da rapper Bixarte em entrevista concedida ao Brasil de Fato “... se uma bicha dentro do Rap já é difícil imagina uma pessoa trans, a gente sabe de todo esse movimento patriarcal colonizador”.
“Ainda existe muito preconceito! Nos próprios paredões, sabe? Então, a galera empurra mais homens, essa coisa de homem, só homem, mas quando curte um show meu, muda logo de ideia.” - A Dama do Pagode em matéria produzida pelas criadoras do Pagode Por Elas.
Se liguem: nós sempre tivemos na cena do rap mulheres de grande renome, de Kmila CDD a Drik Barbosa. Atualmente, temos também mulheres conquistando espaços na cena do pagode, de A dama à Tertuliana (A Travestis), e ainda a galera do Pagode por Elas (@pagodeporelas) que já vem construindo uma nova década no pagodão e dando visibilidade aos grandes nomes que temos na cena do pagode baiano. O pagode e o rap também são instrumentos de salvar vidas de meninas negras.
Nesse 08 de março, o Vandalize te convoca a pegar a visão e valorizar os grandes sons da atualidade lançados por mulheres nas cenas do rap e do pagode. E pra não ter desculpa, deixamos aqui alguns nomes pra vocês se ligarem nos sons: A dama do Pagode, A Travestis, Drik Barbosa, Aila Menezes, Stefanie, Tássia Reis, Swing de mãe, Tasha & Tracie, Bivolt, Rai Ferreira, Kmila CDD, Ororo, Danna Lisboa, Bel4triz, Urias, Nutt Mc, Lulu Monamour, Alice Guél e muito mais. Se liguem também nas Batalhas de rimas produzidas pelas minas Salvador, como a Batalha das Bruxas, onde “não cola Barbie muito menos Xuxa” (@batalhadasbruxa).
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