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"Alguém tem que dar os grandes passos primeiro, pra inspirar as pessoas em volta." - Uma entrevista com NiLL


Arte: @mfnom

Davi Rezaque, popularmente conhecido como niLL, é um músico de Jundiaí. Iniciou a sua carreira no rap com o duo Sem Modos em 2012. Desde 2015 deixou o projeto para trabalhar na sua carreira solo junto com selo [Soundfoodgang](https://www.facebook.com/soundfoodgang/), formado por amigos de longa data do seu bairro. Iniciando com o EP [Aprendizados](https://www.youtube.com/watch?v=od6_iwtlkJY&list=PLyt47L2Rpbt7MREiR14h_pTHKt1yRCOeL) do MC Mano Will, a Soundfood tem realizado um percurso de lançamentos muito sólido e diverso, apostando nos projetos solos de seus membros e as suas colaborações entre si.

Ano passado niLL figurou em uma série de listas e rankings dos melhores álbuns do ano. Com o honesto Regina, seu primeiro álbum, o rapper apresentou uma sonoridade diferente para o cenário com letras que tratam do seu íntimo e das relações contemporâneas. Cada vez mais, niLL e a Soundfoodgang tem conquistado um espaço significativo no rap. Há cerca de um mês ele fez o lançamento da música [Atari 3](https://www.youtube.com/watch?v=fWlqdUydkdE), fechando uma trilogia de love songs iniciada no seu EP Negraxa.

Recentemente nós tivemos a possibilidade de realizar uma entrevista com o artista, falando um pouco sobre o público, as mudanças no rap nacional e o espaço para a criatividade.

 Vandalize: Como tem sido a reação do público em relação as suas músicas, considerando o reconhecimento crescente que tem ocorrido na sua carreira?

niLL Soundfoodgang: Agora o público vem entendo minha proposta e tá sendo divertido posso apresentar algumas coisas que eu gosto isso me da muita liberdade.

Vandalize: Você acha então que nesses próximos anos vai existir uma abertura criativa maior na cena como um todo?

niLL Soundfoodgang: Sim esse é meu plano. Alguém tem que dar os grandes passos primeiro, pra inspirar as pessoas em volta.

Vandalize: Você acredita que está ocorrendo a formação de um público pro underground nacional? Como que os ouvintes do nosso underground de anos atrás, como Quinto Andar, Mzuri Sana e Rua de Baixo, recebem o trabalho da nova escola que segue essa linha?

niLL Soundfoodgang: Não eu busco sair cada vez mais desse negócio de underground isso matou muito dos meus ídolos. Eu demorei pra aprender sobre isso, sabe? Quando eu comecei a conhecer o underground eu achava aquilo o máximo, achava aquilo demais. Realmente, é surpreendente como os artistas do underground se desenvolvem, é muito louco. É só que o problema do underground é que não dá dinheiro pra os artistas pra que eles possam continuar o trabalho deles, simples assim. E aí os artistas vão desanimando e vai morrendo a arte do cara, entendeu? Muitos desistem, outros continuam mas já não tem o ânimo de fazer a parada, e isso é ruim. Hoje eu aprendi que o underground é uma escola, é uma base, mas nada além disso, não pode se tornar a sua vida. Se não você vai acabar dando a sua vida pro underground e não vai receber nada em troca, tá ligado? Isso é complicado se você tem uma família pra cuidar.

Vandalize: Então você não vê como uma saída por uma questão de estrutura, certo? Acreditamos que o Emicida, entre outros fatores, acabou contribuindo pro surgimento de uma visão mais profissional sem deixar de realmente fazer o que ele quer, você concorda?

niLL Soundfoodgang: Fato. Eu vejo o underground como uma boa formação. No começo você ainda tem que aprender o movimento, conhecer a história, fazer as coletas, o underground é bom pra isso, pra você aprender a valorizar o movimento. Mas aí chega um momento que ele começa a estreitar o caminho, você não tem estrutura pra trabalhar, simplesmente isso. Às vezes você vai fazer um show, geralmente não recebe. Como você vai trabalhar sem receber? É foda. Mas o Emicida foi um cara que me inspirou bastante no lado profissional porque ele conseguiu, ele foi o único preto que conseguiu chegar em algumas coisas que eu almejo,  por isso eu tenho o máximo respeito a ele. Mas mesmo assim, ainda acaba precisando se adaptar um pouco. Tem coisa que ele fazia antes que hoje em dia ele não ia poder estar tocando na rádio, onde tem gente que gosta dele, ou na TV, por exemplo. Então é complicado. 

Vandalize: niLLl, você acha que os rappers buscam uma identidade própria ou reproduzem tendências do momento? Será que existe um equilíbrio entre as duas coisas?

niLL Soundfoodgang: Bom, eu vejo mais tendência do que identidade, isso sem dúvida. Mas como em tudo ainda existem as exceções. Essa geração por mais tendenciosa que seja é a mais original até hoje. Vemos, por exemplo, uma época em que se vive Makalister,  Victor Xamã, Raffa Moreira, Vandal, niLL, Eloy Polemico, Edgar, todos juntos e cada um com um formato diferente.

Vandalize: Bom, pensando nisso que você comentou e olhando pro outro lado da produção:
Qual fator você considera o mais importante na formação dessa identidade que o rap mainstream tem propagado: O público, as mídias ou os próprios rappers?

niLL Soundfoodgang: Bom é uma junção eu acredito que seja a mudança da música, ai ela sai em mídias diferentes assim trazendo um público diferente

Vandalize Recentemente a gente tem visto outras mídias surgir, assim como sons diferentes ganhando espaço também. Pensando em relação às mídia e o público: sobre o fato que ocorreu com o rapbox, q que você acha que realmente ocasionou a não gravação da sua faixa? Poderia ser o medo do "novo'"?

niLL Soundfoodgang: Não, não posso dizer ao certo por que no email eles me disseram que a música tava '''numa pegada soul'' e fora da proposta e depois nas redes sociais publicaram que não gostaram da música. Enfim, ela não tinha espaço no projeto deles.

Vandalize: Atualmente, algumas crews e selos têm surgido no Brasil com mais força e alcance. A Soundfood tem sido uma delas. Como você acha que produzir em um selo independente afeta o seu trabalho?

niLL Soundfoodgang: Meu trabalho é afetado diretamente, ainda mais como linha de frente de um time, puxar o bonde é difícil, não é pra qualquer um, fora a responsa de manter tudo nos trilhos. Os artistas tem um entrosamento natural, então um ta sempre participando dos projetos do outro, então afeta diretamente meu trabalho também, isso é muito divertido.

Vandalize: Quais sonoridades você ainda gostaria de explorar?

niLL Soundfoodgang: Bom eu só quero misturar uns instrumentos.

Vandalize: Alguns instrumentais seus já tem instrumentos, certo?

niLL Soundfoodgang: Já sim, por enquanto usei pouca coisa saca, uma guitarra que o ErreA e o Skin tocaram em [''Minha mulher acha que eu sou o Brad Pitt''](https://www.youtube.com/watch?v=ZJM6qSIoqzA) de resto tudo no fruitloops.

Vandalize: Quais outros artistas aqui no Brasil você acredita que ainda não tem o devido reconhecimento?
niLL Soundfoodgang: Makalister, Victor Xamã, Gustavo Goss, Vandal, Amiri e toda a Soundfoodgang, vixii, ainda tem muitos outros, né, mas esses é o que sempre fica na mente.

Vandalize: Quais subgêneros orap você acha que foram pouco explorados no Brasil?

niLL Soundfoodgang: Cara, sobre os subgêneros chegamos um período que tudo tá sendo explorado. Em todo canto tem alguém fazendo algo diferente no rap o problema é que eles não têm visibilidade.

Vandalize: Por último, um espaço livre pra você mandar uma mensagem pro público

niLL Soundfoodgang: Uma msg: dêem atenção e valor aos artistas de sua região e de resto bebam água ou danone.