- por André Gutemberg
Todo bom fã de Rap no Brasil já deve ter ouvido falar de Raffa
Moreira. Pro bem ou pro mal, por amor ou por ódio, o Rapper de Guarulhos/SP faz
jus a frase que canta em seu single “Bro”: “Todo mundo fala de mim”. Pois é. Considerado
o rei do Trap Br pelo seus “fãs reais” e apenas um retardado com mania de
grandeza para seus haters, Raffa impõe uma personalidade forte e orgulhosa –
alguns diriam narcísica – que traz átona questões que vão além da música, como
empoderamento negro, apropriação cultural, autoestima, racismo, inovação
artística e etc.
Até aí tudo normal, todo grande nome do Hip-Hop apresenta
características parecidas, um bom exemplo é o Kanye West que se autodenomina
Yeezus, God, o maior Rockstar de todos os tempos. Amado na mesma proporção que
é odiado apesar de sua genialidade inquestionável, Kanye causa estrago toda vez
que decide falar algumas verdades, e arrasta criticas intermináveis perante
algumas de suas atitudes e até rimas. Mas a questão principal é: por que
artistas como Raffa Moreira e Kanye West incomodam tanto? Logo mais já vamos
trazer alguma luz sobre essa indagação..
Preciso frisar que a ideia central desse texto é demonstrar
que as pessoas odeiam Kanye West e Raffa Moreira por motivos errados. Se é que existem
motivos pra se odiar tais personalidades. Sendo assim, se é pra serem odiados, que
esses dois sejam odiados por motivos plausíveis, pelo menos. E Eu como amante
do Hip-Hop pretendo contribuir pra isso, já que entendo que a as personas criadas
por Raffa e Kanye são cheias de significados, e são de grande valia pra nossa
cultura.
A outra ideia que compõe o texto é a de demonstrar que Raffa
Moreira é uma personalidade tão proeminente quanto o gênio problemático Kanye
West. Isso é feito através das inúmeras comparações entre esses dois
personagens. Independente dos excessos e vacilos, Raffa Moreira é um nome no
cenário nacional que não pode ser associado à mesmice. Se não bota fé nessa
afirmação, “para irmão”, abra sua mente, me acompanhe pelos parágrafos adiante
e verá que não estou falando nenhuma bobagem.
Voltando a questão inicial, do porquê de tanto ódio a esses
artistas, temo não ser tão simples encontrar uma resposta, partindo do ponto
que existe muita subjetividade quando o assunto são personagens influentes
dentro de uma cultura. Mas se nos extrairmos de pré-conceitos, moralidades e
falsas dicotomias poderemos chegar a um consenso. É necessário um olhar
investigativo sobre o efeito colateral da persona desses dois ícones, e se tem
uma coisa que aprendi com a sociologia é que, nem tudo que parece é. Nesse caso
– mais do que nunca - uma avaliação fora de um contexto histórico-social tende
a ser rasa e equivocada. Pois então sigamos na procura dos porquês do asco a
esses dois artistas sobressalentes em suas respectivas áreas de atuação.
Os críticos de Kanye e Raffa se diferenciam em muitas coisas
– até porque os dois músicos também se diferenciam. Kanye já é um monstro consagrado
reconhecido mundialmente, isso é indiscutível. Raffa apesar de ser um artista
diferenciado e de referência nacional, ainda não lançou nem um disco oficial e
luta pra se firmar no cenário – apesar desse distanciamento comparando a
carreira de um com o outro, as críticas que ambos recebem se parecem muito,
pode se dizer que devido a algumas características em comum: Os dois são negros
de origem pobre, com um ego gigantesco, falam sem pensar é claro o mais
importante, têm uma conta no twitter – lugar onde se faz muitos inimigos quando
se é “sincero demais”.
Mas como havia dito não é tão simples. E também nem seria
justo o ódio a esses grandes artistas, se o catalisador do sentimento fossem
apenas as características apresentadas. Mas como queremos esclarecer as coisas,
fazendo cair as mascaras sociais que tornam tudo mais nebuloso, teremos que nos
esforçar mais um pouco se quisermos ver o que se esconde por trás da cortina de
xingamentos que perseguem Raffa e Kanye.
Primeiramente é preciso frisar que são dois pretos levantando
questões raciais a todo o momento dentro de um sistema “branco”, logo, a
interpretação do que é considerado mal ou bom pela opinião pública -
inconscientemente (ou não) - é “branca”. Entender que existe um sistema
“branco” influenciando a opinião das pessoas (incluindo negros), seja na
internet ou qualquer outro meio de comunicação, é fundamental para sairmos da
Matrix da ignorância e entrarmos no infernal mundo da verdade (dói, mas liberta).
Automaticamente depois dessa catarse de consciência, se
voltarmos nosso olhar para os artistas e suas características – citadas com a
intenção de demonstrar as justificativas usadas por terceiros quando destilam
ódio sobre os tais – soa tudo como uma situação pitoresca e ingênua. Algo do
tipo: “Como não pensei nisso antes?” Logo aquilo que era considerado como
simples egolatria estúpida, pode ser entendido como autoestima, orgulho,
empodaramento, resistência ou até mesmo medo da invisibilidade, do limbo do
esquecimento que todo pobre negro conhece. Quem ousará distinguir a linha tênue
da arrogância VS a autoafirmação? Quem pode diferenciar o que são atitudes
imbecis de atitudes autênticas e espontâneas, de alguém que é verdadeiro ao extremo
numa indústria onde 90% é fake? Quem pode dizer o que é certo ou errado a dois
pretos que vieram do nada? Certamente não pode ser o mesmo sistema que os
escravizou, segregou e até nos dias de hoje procura formas de se reinventar e
perpetuar as relações de poder piramidal que sempre existiram na sociedade.
Com esses poucos argumentos já começamos a perceber que o
ódio direcionado as personalidades como Kanye e Raffa, estão além de uma
simples discordância de atitude.
Focando em Kanye West - agora com a visão “fora da Matrix” –
percebemos o quão ignorantes são os que o definem como “um perfeito idiota.”
São ignorantes culturalmente falando (por não enxergarem que o sistema vai tentar esmagar qualquer
preto que se afirmar foda. “Quem esse neguinho pensa que é pra se afirmar
Deus?”, afinal na ideia deles deus é caucasiano e católico. Talvez seja por
isso que Yeezy canta que “Não existe igrejas na selva” (No Church In The Wild),
é uma tentativa de subverter a moral cristã que vem encarcerando o povo a milhares
de anos. Por outro lado, os haters de Kanye também são ignorantes musicalmente
falando. É difícil de levar em conta a opinião dessas pessoas, sempre me
questiono: é sério que ainda tem gente que acha que a Taylor Swfit (com um
clipe xoxo, infanto-juvenil, sem criatividade) ganhar um premio em cima de Single
Ladies da rainha Beyoncé é justo??? Alguém precisava dizer algo, e o Mr. West
foi lá e disse. Kanye é uma espécie de Anti-Herói que fala as coisas que
precisam ser ditas e ninguém tem coragem de dizer. O tal do trabalho sujo. Se
você se diz do Hip-Hop e discorda disso, é uma grande contradição. (É aceitável
que se discorde do modo como Kanye expôs isso, mas é inaceitável não enxergar
como o privilégio branco está presente na indústria musical).
Ratifico que essa postura do Kanye pode até soar misógina e
que não cabe a nenhum homem dizer qual mulher deve receber uma premiação na
medida em que não foi convocado como jurado técnico. Porém, pensando pelo viés
racial, essa “lei” naturalmente é subvertida, se abrindo uma exceção. Eu não
quero entrar no debate do “feminismo branco”, mas é necessário lembrar que no
inicio desse movimento, enquanto mulheres brancas protestavam pelo direito de
ingressar no mercado de trabalho, mulheres negras trabalhavam num regime
semi-escravocrata como domésticas na casa da maioria dessas mesmas mulheres
brancas. Então uma condenação em 100%, por parte de alguma mina em relação a
atitude do Kanye, de dizer que a Beyoncé merecia aquele premio no lugar da
Tylor é no mínimo estranho e me faz lembrar o verso do Don L em Poetas No Topo:
“Patricinha femin... não! Racista!!”.
Eu pesquisei os principais episódios que mais geraram hate
na redes para o personagem Kanye West, e sinceramente não vi nada demais, aliás,
vi verdades sendo expostas de modo bruto. Todos sabem que Bush nunca ligou pros
negros, agora dizer isso em rede nacional, ao vivo, pra todo os EUA só o Yeezus
mesmo pra dizer. Desculpe mas não sei quem é Beck, e se o Kanye disse que o
disco dele não foi melhor que o incrível álbum visual da Beyoncé, não vou
discordar. Por favor, não me lavem a mal, mas alguém sabe quem diabos é Gretchen
Wilson!?? Também não sei, mas me parece que é um tipo de Paula Fernandes da
gringa. Agora você imagina a Paula Fernandes ganhando um premio em cima do Mano
Brown... é no mínimo esquisito, e fica difícil discordar de alguém que protesta
severamente contra isso, como o Kanye fez. Outros fatores que fazem Kanye ser
odiado por uma massa de pessoas são suas entrevistas. Eu até poderia concordar
que nesse quesito Yeezus passa do ponto, mas é muito épico um preto ir na BBC e
afirmar com toda veemência e seriedade do mundo; “Eu sou Deus!”. É o tipo de
coisa que faz você ter a aquela reação de levantar a mão emulando o sinal do
Rock, gritando com voz aguda; “Carai que mito!!” (risos).
Aquele discurso no Jimmy Kimmel Live é realmente inspirador,
o gueto precisa de um pouco dessa megalomania, nossas crianças devem parar de
andar de cabeça baixa por aí, nosso futuro não se resume em crime ou salário
mínimo. Pras favelas e periferias geralmente os exemplos devem ser super
hiperbólicos pra que pelo menos 1% do que é demonstrado seja absorvido. Funcionando como alguma fagulha de mudança.
Kanye entende isso, incorpora isso, sofre isso e leva até as ultimas
consequências. Reafirmo, quando se lança um olhar antropológico e amoral sobre
esse personagem e suas obras, fica quase impossível de não admirá-lo.
Aqui é o ponto crucial em que os leitores de espírito livre (mas
que por algum erro de interpretação são) haters de Kanye West começam a mudar
de opinião, e sentir que os motivos pelo qual odeiam o Kanye na verdade são
motivos para amá-lo.
Voltando pro Brasil, com as tretas de Kanye na bagagem, agora
foquemos mais em Raffa Moreira - Logo logo chegaremos as conclusões finais do
porquê realmente o ódio persegue os nomes desses artistas - Tive que dar uma
atenção especial as grandes aparições de Mr. West na mídia internacional, para
que a semelhança entre as figuras protagonistas do texto ficassem mais
evidentes. Pra quem é “fã real” do Raffa esse casamento já deve estar mais que
explicito, creio eu, porem pra quem não é fã e pra quem é hater, nem tanto.
Então especificarei melhor a seguir algumas ações e características do Lil
Raff, que se assemelham muito com as do Yeezy, e geram polêmicas:
1 – Ego
Megalomaníaco. Raffa Moreira se autodenomina o maior artista da sua geração
(não sei se ele fala tão sério quanto Kanye), mas a “mania de grandeza” do
Raffa é algo inaceitável pra boa parte do público de rap nacional. Coisa que
para Yeezy, como vimos, é recorrente em várias músicas e entrevistas. Raffa não
esconde sua vibe Egotrip, e na faixa “Indo” explica:
“Li numa matéria eles
me chamando de arrogante num tom dúbio, egotrip
Incentivando os mais
novos a nunca deixar de acreditar em si.”
2 – Transgressão/inovação.
Raffa subverteu o jeito como se fazia rap no Brasil. Longe de mim afirmar que
ele foi o pioneiro no Trap Br, mas com toda certeza é um dos seus maiores
expoentes no subgênero com várias mixtapes, clipes, e feats. Depois de Raffa a
cena do trap/rap nunca mais foi a mesma no Brasa. Assim como Kanye, que
evertteu o domínio do Gangsta Rap com seu primeiro disco College Droupt,
mudando a cena em seu país. Mas tudo que é novo assusta. De primeira nem um dos
dois teve grande aceitação, Kanye foi rejeitado várias vezes pelas gravadoras
por não se enquadrar em nenhum perfil de rapper vendável pra época. Raffa conta
que começou oficialmente em 2012, mas só em 2017 teve o reconhecimento que
merece. (Repetindo que não estou comparando o conteúdo dos trabalhos, isso na
faz sentido, apenas comparo as intenções dos artistas ao lançarem suas obras, e
consequentemente seus efeitos).
3 – O clamor pelo reconhecimento da música negra.
Raffa várias vezes se pronunciou como um “músico pan-africanista” (não
exatamente com essas palavras), dizendo que seu intuito é “hypar” o máximo de
artistas negros que puder, pretendendo manter sempre essa estética. Não
encontrei uma fala explicita do Kanye a esse respeito mas a semelhança fica
clara em músicas como Black Skinhead ou Niggas In Paris. Seu pai foi membro dos
Panteras Negras, e sua maãe professora o que (creio eu) deve ter influenciado
na formação de sua personalidade militante.
4 – Sarcasmo e zoação
com “gente branca”. Não é segredo pra ninguém que boa parte do público do
Raffa chegou até ele por causa das tretas. Sem papas na língua desde o inicio
da carreira, Raffa através de rimas, stories no instagram e piadas em redes
sociais demonstra seu descontentamento com a falta de negros no cenário rap. O
alvo de seus ataques geralmente são mcs brancos de boa condição financeira.
Sendo assim as acusações de segregação e racismo inverso estão sempre recaindo
sobre o mesmo. Mas qualquer um que ouça suas músicas ou o siga no Twitter pode
ver que essas acusações não o intimidam. E cá entre nós, não existe nada mais
Kanye West do que zoar músicos brancos. Todos os artistas que tiveram seu
premio reclamado por Yeezus eram brancos, e apesar dos protestos bem sérios do
artista, todas essas situações soaram bem engraçadas e geraram bons memes.
Famous (música do ultimo disco do rapper) tem uma linha que diz mais ou menos
assim: “Acho que eu e a Tylor (Swfit)
ainda vamos fazer sexo, porque fui eu que fiz essa vadia famosa”. E sem
contar que o vídeo clipe dessa música faz referências bem esquisitas a várias
personalidades brancas dos EUA.
5 – Enfim, poderia
listar e discorrer mais algumas outras coisas em comum que Raffa e Kanye têm
tipo uma marca de roupa (Fernando Clothing nego), a loucura, tweets polêmicos (da
pra fazer um catálogo), excessos e etc. Enfim, paro por aqui porque tenho
certeza que com os pontos apresentados é possível perceber que estamos diante
dois grandes artistas. E bom espero que os haters do Raffa já comecem a
entender que ele não é tão imbecil assim como pensam, e desconstruam essa
imagem, do mesmo modo que a imagem de “perfeito idiota” imposta sobre Kanye West foi desfeita pelo
texto.
Mas a pergunta que não quer calar, que vários devem estar se
fazendo é: “Se agora entendo que o ego megalomaníaco desses artistas na verdade
traz autoestima pro gueto, que as músicas estranhas na verdade são inovações,
que a fita de zoar gente branca na verdade faz parte do empoderamento negro,
que tweetes não podem ser levado tão a sério, e todos outros motivos pelo qual
odeio artistas como Raffa Moreira e Kanye West são estúpidos, fúteis e sem
sentido, na verdade não podendo nem ser considerado motivos, então por qual
motivo realmente odeio grandes artistas como eles?” Pois a resposta passa a ser
simples: Racismo Sistêmico e Mediocridade Social.
Segundo Autor Carlos Moore; “o racismo está há muito tempo
estruturando a sociedade, a visão religiosa, os padrões estéticos e culturais,
o imaginário social e um monte de coisas. O racismo é um fator histórico
estruturante. Essa é a questão. Trata-se de um arranjo sistêmico que engloba a
totalidade das interações entre os seres humanos.”
O que Raffa e Kanye estão fazendo a cada polêmica envolvendo
brancos é denunciar o racismo sistêmico. Infelizmente o Brasil ainda tem que
lhe dar com o racismo velado – algo que para os norte-americanos parece nunca
ter existido. Isso faz com que o público do rap no Brasil se encontre muito
atrasado em comparação ao público norte-americano. Na verdade não é só o
público que se encontra atrasado mas os próprios mcs da cena apresentam uma
profunda despolitização perante esse tema.
Quando se levanta questões como apropriação cultural em
nosso solo há sempre um “auê” desnecessário. Aqui Raffa sofre com a ignorância
dos colegas de trabalho (falo daquela ala branca que possui uma condição
financeira melhor que a maioria dos brasileiros) que não reconhecem seus
privilégios, sofre com a falta de maturidade dos ouvintes, sofre com o racismo
velado do público quando chama de mimi a luta contra o preconceito, sofre com o
racismo sistêmico que dificulta pra um negro ganho de grana, a produção de
arte, e o seu desenvolvimento pessoal. Diferente de Kanye nos Estados Unidos - que
sofre as consequências do racismo sistêmico, sendo atacado pela mídia, expulso
de alguns países da Europa, difamado de várias formas e “outras cocitas mais” –
mas quando se expõe questões de apropriação cultural o hate é do público
branco, geralmente de classe média. Não sei se ficou claro.
Raffa recebe insultos de pessoas negras quando zoa um branco
(se algum gringo ler isso vai achar tosco, mas é o Brasil). Kanye não recebe
esse tipo de insulto, ou pra ser mais justo, se recebe é bem menos do que o
Raffa. Até porque lá fora os mcs brancos entendem que o sistema é realmente
branco. Você não vai ver Eminem, Mec Miller ou Logic tretando com rappers
negros porque eles zoaram o Macklemore ou falaram que “branco só faz merda”.
Nos EUA se tem uma consciência maior dentro da cultura Hip-Hop e nas perifeiras
a palavra “brancos” soa como xingamento por lá desde os discos de Stund up de
Richard Prayor - quem assisti Todo Mundo Odeia o Chris tá ligado.
O Brasil tá atrasado. Que Raffa os perdoe, em nome de
Yeezus, eles não sabem o que fazem, ainda acreditam em racismo inverso.
Mas eles não podem acusar o Raffa de ser racista inverso,
muito menos o Kanye. Yeezy tem várias parcerias com músicos brancos (Kate
Perry, Paul McCartney, Adam Levine), e usou Eminem como referência em um som (Kinda
Like A Big Deal). Já o Raffa cola direto com o Makalister e Pimposo (que são
rappers brancos), muito dos seus fãs são brancos também, e ele já esclareceu
numa entrevista pro Rap TV que não tem nada contra os brancos. É interessante
um tweete do Matheus Coringa (Um rapper branco grande expoente no cenário
underground) sobre o assunto:
“Só se ofende com o
bang de "brancos" quem for branco burro, porque né... só um idiota
não entende o tipo de "brancos" que eles querem dizer”.
Se todos pensassem assim como o Coringa o mundo seria um
lugar melhor. A grande verdade é que normalmente quando se acusa um negro de
racismo inverso, geralmente se está sendo racista – e pode até ser de forma inconsciente.
É o lance do racismo sistêmico e velado, que paira sobre as cabeças preguiçosas
as impedindo de entender que “um preto no topo incomoda”. Se você é branco e
não compreende que um preto esbanjando autoestima e fazendo piadas com
caucasianos, é só uma pequena reparação e não é nada comparado ao que se sofreu
na época da escravatura, você precisa se tratar, mas não vá ao médico, vá a uma
biblioteca depois dê um role na sua área (seja rica ou pobre) e perceba as
desigualdades incrustadas na realidade, veja o quanto a sociedade atual herdou
daquela época sombria. Se não conseguir enxergar, talvez você seja racista - só
não sabe disso ainda.
Não bastasse a permanente luta contra o racismo, Kanye e
Raffa estão em guerra constante contra a mediocridade social que rondam suas
inovações artísticas. As pessoas odeiam aquilo que não entendem. Kanye West e
Raffa Moreira são dois exímios quebradores do establishment, e as pessoas costumam
rejeitar artistas desse tipo porque elas são covardes, meras ovelhas a procura
de um rebanho, tentando serem aceitas, por qualquer pastor que tenha o poder de
proclamar que elas são boas o bastante pra continuar a fazer - seja lá o que
for - aquilo estão fazendo. Daí quando aparece alguém berrando aos quatro
cantos que se pode fazer o que quiser, e fazendo o que quer, cagando pra
regras, automaticamente esse alguém se torna (metaforicamente) um espelho
quebrado, no qual o hater enxerga toda sua prórpia falta de cofiança, pequenez
e incapacidade de ser quem deseja ser. É o que Nietzsche chamaria de “cordeiro,
eunuco da própria potência que busca sempre um guru, mestre ou divindade para
decidir por ele e em quem poderia recorrer para chorar suas fraquezas.” Eis o
DNA dos haters, dos críticos e posers.
Aproximamos-nos do fim e creio que seja necessário
esclarecer que em nenhum momento do texto quis insinuar ou dar a entender que
Raffa Moreira e Kanye West estão acima do bem e do mal. Se ocorreu algo do tipo,
peço perdão, pois pelo contrário, acredito que ambos devem ser cobrados pelos
seus erros, afinal apesar de se autoafirmarem deuses, são apenas humanos e
humanos erram.
O intuito primordial do texto foi de nos fazer refletir e
repensar nossa relação com artistas negros, ditos polêmicos, depreciados pela
mídia e a opinião pública. Usei o Raffa e o Kanye, pois entendo que eles
representam essa imagem melhor do que quaisquer outros. Porém podemos analisar da
mesma forma – ou parecida – personagens como Tyler The Creator, 2 Pac, Snoop
Dogg, 50 cent, Lil Wayne e etc.
Por fim, devo confessar que a motivação principal para
escrever tudo isso, foi a minha crença, de que o único artista brasileiro com
potencial para um dia subir num palco e esbravejar que a premiação foi injusta
(pra não dizer racista) se chama Raffa Moreira. Fala sério, imagina; prêmio
multi show, VMB, sei lá... Drika Barbosa lança melhor disco da década, mas quem
ganha é a hipster Clarice Falcão (ou qualquer outro estereótipo desses), daí entra
o Raffa dizendo: “gan gang nada disso bro, Drika lançou o melhor disco do ano,
vocês são rico e foda-se, vocês são branco e foda-se, skrr, Raffa Kanye West
Moreira mano, paguem a Drika bro!!”. Não é possível, essa cena tá muito clara
na minha cabeça, de fato Raffa Moreira é o nosso Kanye West em termos de
aterrorizar esse sistema “caucasiano católico típico bom sujeito”.
Referências
Sobre Kanye West:
Top 10 Razones por las que Kanye West es Odiado
50 FATOS SOBRE KANYE WEST
KANYE WEST - Entrevista Inspiracional
KANYE WEST - CONHEÇA A VIDA E TRAJETÓRIA DO RAPPER
FUI FALAR MAL DO KANYE E OLHA SÓ NO QUE DEU
Depoimento de KL Jay sobre Kanye West
depoimento de Marcelo D2 sobre Kanye West
A loucura inofensiva de Kanye West
Sobre Raffa Moreira:
Hatz Entrevista #7 - Raffa Moreira
ACERCA | RAFFA MOREIRA
Raffa Moreira Na Batalha Da Matriz em Guarulhos
PodCast 2 - Raffa Moreira, Obra Musical e Pare Irmão!
Eles amam o Thug, mas desprezam o Raffa Moreira
Haikaiss, quarteto de rappers brancos do Lolla, é alvo de
crítica: 'Porta para fim de negros no rap
Playlist com as melhores do Raffa
Sobre Racismo e Apropriação Cultural:
‘Racismo é o problema mais sério que os seres humanos têm
diante de si’
Você é racista - só não sabe disso ainda
J. COLE E A APROPRIAÇÃO CULTURAL
APROPRIAÇÃO CULTURAL | Um pouco além do caso da GAROTA COM
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Sobre Nietzsche:
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