- por Arthur Venturi Vasen
Na semana
passada o quadro “Muito Além do LGBT”
abordou algumas identidades de gêneros não binários, especialmente aquelas em
que as pessoas se identificam com mais de um gênero, de forma simultânea ou
não.
Com
o objetivo de seguir a discussão, a presente matéria tem o objetivo de comentar
mais algumas identidades, com base na listagem do portal orientando.org
.
Uma
das identidades também recorrentes é a de Gênero
Neutro, ou seja, pessoas cujo gênero não remete nem a elementos masculinos
nem a femininos. Um passo mais radical no sentido da neutralidade são pessoas
que se identificam como Agênero, ou
seja, afirmam não possuir um gênero e/ou não desejam ser encaixadas em nenhum
gênero. Outra possibilidade é o Gênero-Vácuo,
ou seja, pessoas que entendem não possuir gênero mas que essa falta, por algum
motivo, é sentida e pode ser visualizada como um vácuo.
Nesse
sentido, é possível pensar agêneros e pessoas gênero neutro como aquelas cuja
construção social de gênero não faz muito sentido em sua vida e/ou não sente
ser algo necessário.
Essa
situação é diferente de pessoas com gêneros não binários que elas próprias não
conseguem entender, por diversos motivos.
Um
dos fatores que pode levar uma pessoa a não compreender seu gêneros é a
condição de neurodivergente, ou
seja, pessoas que nasceram com características psicológicas que divergem do que
se considera normal e são consideradas, pela psiquiatria e psicologia, como
portadoras de uma psicopatologia ou um déficit psicológico (déficit cognitivo,
déficit de atenção, entre outros). Assim, é possível que uma pessoa se
identifique como Neurogênero,
querendo dizer exatamente isto: minha condição psicológica influencia minha
identidade de gênero. Se essa influência for negativa, existe a classificação
de Gênero-Vago, ou seja, que por
conta da condição psicológica não conseguem ter total noção de seu gênero. Em
pessoas com déficit em funções ligadas à consciência ou atenção, existe a
classificação de Gênero-Neblina, que
busca retratar a consciência dessas pessoas como uma neblina onde é difícil se
localizar e entender o que está ao redor. Existe ainda a classificação de Ilusogênero, ou seja, pessoas que
sentem que sua identidade de gênero é falso.
Sendo
possível entender identidade como um espelho mental onde vemos o que
acreditamos ser nós mesmos, existem casos em que a forma como determinada
pessoa se vê é única. Sendo assim, como se posicionar a respeito disso? Pessoas
egogêneras dizem que a forma como se
percebem é impossível de ser relatada para outras pessoas, por ser algo muito
próprio. Existem ainda pessoas que entendem que seu gênero é incompreensível
para si próprio (Gênero-estática),
que possui muitos gêneros mas não entende a maioria deles (Giaragênero) ou que simplemente tentou se entender mas percebeu que
seu gênero é muito confuso para ser compreendido (Turbogênero).
Voltando
às influências externas sobre a identidade de gênero, não apenas
neurodivergências influenciam, mas também outros fatores como o fato de ser ter
nascido uma pessoa intersexo (intergênero),
a influência hormonal do ciclo menstrual (ciclogênero),
o fato de alguém identificar seu gênero ser o suficiente para alterá-lo (verangênero) ou ter sofrido abusos (obligênero). Ainda existem pessoas que
sentem, de forma mais genérica, que o meio externo possui um grande papel na
definição de seu gênero (locugênero)
ou cujo gênero só expressa em situações específicas (condigênero).
Indo
um passo mais além, existem ainda pessoas que compreendem que seu gênero existe
apenas em realidades ficcionais de filmes, livros, games e quadrinhos por
exemplo, ou ainda em outras raças de animais (kingênero), ou que entendem que seu gênero só existe em outros
mundo, em raças alienígenas (gênero-estrela),
ou que existem apenas em um universo paralelo, em uma existência alternativa e
impossível de ser atingida nesse plano existencial (altegênero). Há ainda quem associe seu gênero a determinadas cores
(gênero-cor) ou à fofura e coisas
fofas (gênero-fofo).
Ou
seja, o que se pode observar a partir disso é o quão grande pode ser a
influencia das nossas experiências pessoais, de nossas lembranças, das pessoas
com quem interagimos, das coisas que nos chamaram atenção e da nossa própria
bagagem psicológica sobre nossa identidade de gênero. Ou seja, sobre como todas
essas experiências influenciam a forma como nos vemos e, a partir disso, de
como agimos no mundo em uma constante troca onde somos influenciados pelo mundo
e devolvemos a ele o resultado da influência que ele nos deixou, como uma
receita onde diversos ingredientes se misturam formando algo novo e inédito
que, independentemente do nome que receba, é vivenciado por nós de forma única
e, em certos casos, até mesmo impossível de ser traduzido para as pessoas que
nos cercam.
Para
aqueles que não são pessoas não binárias, é possível pensar em que medida sua
identidade como um todo (não apenas a de gênero) é influenciada por tudo que
acontece em sua vida. Por conta disso o próprio título desse quadro deveria ser
mudado. “Muito além do LGBT” faz referência a discussões que em alguns momentos
até fogem da militância por direitos e nos fazem pensar em nós mesmos e em tudo
aquilo que vivemos até o fim.
E
assim nos despedimos desse quadro, por enquanto, talvez com mais dúvidas do que
certezas, mas com novas possibilidades de reflexão. O que toda essa discussão
te fez pensar? Caso tenha interesse nos envie um e-mail para sintoniarapcontato@gmail.com
contando sua história para que possamos publicar em Fevereiro aqui no Sintonia!
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