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Muito Além do LGBT pt. 4: Outras identidades de gêneros não binárias



 - por Arthur Venturi Vasen

           Na semana passada o quadro “Muito Além do LGBT” abordou algumas identidades de gêneros não binários, especialmente aquelas em que as pessoas se identificam com mais de um gênero, de forma simultânea ou não.

            Com o objetivo de seguir a discussão, a presente matéria tem o objetivo de comentar mais algumas identidades, com base na listagem do portal orientando.org .

            Uma das identidades também recorrentes é a de Gênero Neutro, ou seja, pessoas cujo gênero não remete nem a elementos masculinos nem a femininos. Um passo mais radical no sentido da neutralidade são pessoas que se identificam como Agênero, ou seja, afirmam não possuir um gênero e/ou não desejam ser encaixadas em nenhum gênero. Outra possibilidade é o Gênero-Vácuo, ou seja, pessoas que entendem não possuir gênero mas que essa falta, por algum motivo, é sentida e pode ser visualizada como um vácuo.

            Nesse sentido, é possível pensar agêneros e pessoas gênero neutro como aquelas cuja construção social de gênero não faz muito sentido em sua vida e/ou não sente ser algo necessário.

            Essa situação é diferente de pessoas com gêneros não binários que elas próprias não conseguem entender, por diversos motivos.

            Um dos fatores que pode levar uma pessoa a não compreender seu gêneros é a condição de neurodivergente, ou seja, pessoas que nasceram com características psicológicas que divergem do que se considera normal e são consideradas, pela psiquiatria e psicologia, como portadoras de uma psicopatologia ou um déficit psicológico (déficit cognitivo, déficit de atenção, entre outros). Assim, é possível que uma pessoa se identifique como Neurogênero, querendo dizer exatamente isto: minha condição psicológica influencia minha identidade de gênero. Se essa influência for negativa, existe a classificação de Gênero-Vago, ou seja, que por conta da condição psicológica não conseguem ter total noção de seu gênero. Em pessoas com déficit em funções ligadas à consciência ou atenção, existe a classificação de Gênero-Neblina, que busca retratar a consciência dessas pessoas como uma neblina onde é difícil se localizar e entender o que está ao redor. Existe ainda a classificação de Ilusogênero, ou seja, pessoas que sentem que sua identidade de gênero é falso.

            Sendo possível entender identidade como um espelho mental onde vemos o que acreditamos ser nós mesmos, existem casos em que a forma como determinada pessoa se vê é única. Sendo assim, como se posicionar a respeito disso? Pessoas egogêneras dizem que a forma como se percebem é impossível de ser relatada para outras pessoas, por ser algo muito próprio. Existem ainda pessoas que entendem que seu gênero é incompreensível para si próprio (Gênero-estática), que possui muitos gêneros mas não entende a maioria deles (Giaragênero) ou que simplemente tentou se entender mas percebeu que seu gênero é muito confuso para ser compreendido (Turbogênero).

            Voltando às influências externas sobre a identidade de gênero, não apenas neurodivergências influenciam, mas também outros fatores como o fato de ser ter nascido uma pessoa intersexo (intergênero), a influência hormonal do ciclo menstrual (ciclogênero), o fato de alguém identificar seu gênero ser o suficiente para alterá-lo (verangênero) ou ter sofrido abusos (obligênero). Ainda existem pessoas que sentem, de forma mais genérica, que o meio externo possui um grande papel na definição de seu gênero (locugênero) ou cujo gênero só expressa em situações específicas (condigênero).

            Indo um passo mais além, existem ainda pessoas que compreendem que seu gênero existe apenas em realidades ficcionais de filmes, livros, games e quadrinhos por exemplo, ou ainda em outras raças de animais (kingênero), ou que entendem que seu gênero só existe em outros mundo, em raças alienígenas (gênero-estrela), ou que existem apenas em um universo paralelo, em uma existência alternativa e impossível de ser atingida nesse plano existencial (altegênero). Há ainda quem associe seu gênero a determinadas cores (gênero-cor) ou à fofura e coisas fofas (gênero-fofo).

            Ou seja, o que se pode observar a partir disso é o quão grande pode ser a influencia das nossas experiências pessoais, de nossas lembranças, das pessoas com quem interagimos, das coisas que nos chamaram atenção e da nossa própria bagagem psicológica sobre nossa identidade de gênero. Ou seja, sobre como todas essas experiências influenciam a forma como nos vemos e, a partir disso, de como agimos no mundo em uma constante troca onde somos influenciados pelo mundo e devolvemos a ele o resultado da influência que ele nos deixou, como uma receita onde diversos ingredientes se misturam formando algo novo e inédito que, independentemente do nome que receba, é vivenciado por nós de forma única e, em certos casos, até mesmo impossível de ser traduzido para as pessoas que nos cercam.

            Para aqueles que não são pessoas não binárias, é possível pensar em que medida sua identidade como um todo (não apenas a de gênero) é influenciada por tudo que acontece em sua vida. Por conta disso o próprio título desse quadro deveria ser mudado. “Muito além do LGBT” faz referência a discussões que em alguns momentos até fogem da militância por direitos e nos fazem pensar em nós mesmos e em tudo aquilo que vivemos até o fim.


            E assim nos despedimos desse quadro, por enquanto, talvez com mais dúvidas do que certezas, mas com novas possibilidades de reflexão. O que toda essa discussão te fez pensar? Caso tenha interesse nos envie um e-mail para sintoniarapcontato@gmail.com contando sua história para que possamos publicar em Fevereiro aqui no Sintonia!