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Muito Além do LGBT parte 2: Identidades de Gênero Binárias e Não Binárias



- por Arthur Venturi Vasen

Na semana passada (leia AQUI), discutimos um pouco sobre o que significa Identidade e Performance de Gênero e quais suas diferenças para o Sexo Biológico.

De alguns meses para cá, muitas pessoas foram pegas de surpresa quando a rapper Triz se assumiu como sendo uma pessoa não binária. Muitas pessoas não entenderam do que Triz estava falando e decidiram não investigar mais sobre o assunto.

Para isso, precisamos entender: O que é binarismo?

Se é possível entender gênero como algo construído socialmente e atribuído às pessoas à partir de seu sexo biológico, a sociedade ocidental consegue compreender apenas dois gêneros: o masculino e o feminino. Na nossa sociedade isso é algo tão forte que em tudo aparece gênero: na divisão dos banheiros masculinos para os femininos, em muitos comportamentos considerados ou “masculinos” (coçar o saco na rua, se interessar por futebol, ser uma pessoa bruta) ou “femininos” (ser gentil e delicada, ser educada, procurar ser uma pessoa sensível e compreensiva) e até mesmo na linguagem onde as crianças já aprendem quais artigos, substantivos e adjetivos são masculinos ou femininos.

Em termos mais sociais, essa diferença se torna ainda mais escancarada. Ainda mais quando se fala sobre diferenças entre gêneros e toda opressão vivida por mulheres na sociedade como a quantidade de mulheres assassinadas todos os dias (feminicídio), a proibição do aborto, as diferenças de salário para executar um mesmo cargo no trabalho, os índices de violência sexual e psicológica e tantos outros dados que cada vez mais estiveram presentes em versos de diversas mulheres como Dina Di, Luana Hansen, Issa Paz, Sara Donato, Dory de Oliveira e Karol Conka. E não apenas no rap, mas em diversos movimentos feministas espalhados por todo o mundo e que cada vez mais repercutem em discussões que temos no dia a dia.

Sendo assim, quando falamos em Binarismo estamos falando sobre essa divisão de gêneros entre o masculino e o feminino.

É importante dizer também, mais uma vez, que isso é algo socialmente construído. Em outras culturas existem perspectivas bem mais amplas que a nossa: na Polinésia, República Dominicana, tribos indígenas americanas, Índia e os Zapotecas no México reconheciam um terceiro gênero, que misturava tanto características masculinas quanto femininas. Em alguns agrupamentos Incas existem registro de até mais que três gêneros. (Esse artigo explora de forma mais ampla esse tema).

            E quando falamos sobre binarismo, isso inclui também pessoas transgêneros, ou seja, pessoas que identificam o seu gênero como o oposto daquele que socialmente lhe foi atribuído. Então daqui pode-se já entender quatro gêneros: homens cisgêneros (foram considerados homens ao nascer e se identificam como homens), mulheres cisgêneras (consideradas mulheres ao nascer e se identificam como mulheres), homens transgêneros (considerados mulheres ao nascer mas hoje se identificam como homens) e mulheres transgêneras (consideradas homens ao nascer e hoje se identificam como mulheres).

            Já foi possível perceber também que em momento algum se falou sobre órgãos genitais ou orientação sexual: quando falamos sobre pessoas trans (homens ou mulheres) estamos falando sobre como elas compreendem e performam seu gênero. Inclusive esse tem sido um, entre tantos problemas, por pessoas trans: dúvidas e curiosidades sobre seus órgãos genitais e sua sexualidade, na medida em que existem muitos pensamentos preconceituoso que afirmam ser impossível uma pessoa ser homem sem possuir um pênis ou ser mulher sem possuir uma vagina. Portanto vale a pena reforçar: falar sobre identidade de gênero é falar sobre como determinada pessoa se identifica, atua no mundo e como é lida pelas outras – e não sobre genitais e sexualidade.

            Chegamos então ao assunto dessa sequência de artigos: gêneros não binários. Esse termo, que tem chegada com cada vez mais força nas militâncias LGBT, no movimento Hip Hop, nas mídias sociais e na sociedade como um todo, depois dessa discussão, não é algo tão difícil de se compreender. Tratam-se de pessoas cuja identidade  ou identidades de gênero não se limitam ao binarismo. Ou seja, sua identidade e/ou performance de gênero não se enquadra exatamente nas padrões sociais de masculinidade e feminilidade.


            Para isso, a próxima coluna do “Muito Além do LGBT” apresentará quais questões surgem quando se fala sobre gêneros não binários.