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Hip Hop: A Esquerda da esquerda...

- por André Gutemberg


O Hip Hop é foda! Enquanto a anos se estuda na academia o liberalismo, o socialismo e outras antigas teorias já um tanto defasadas, o Hip Hop cravou na história do mundo um estilo de vida capitalista comunitário!

"No$$aaa, Capitalista Comunitário??" Sim, mas isso não quer dizer que nossa sacra Cultura se encaixe naqueles termos ignorantes e apolíticos: "não sou de esquerda, nem de direita, e bla bla". Nem tão pouco que isso é uma afirmação social-democrata. Como diria o poeta: "Deus me dibre"!

"Interessante André, mas se nós da Cultura Sagrada odiamos a direita e temos irmãos e irmãs rico(a)s, ostentadores demais para fazer parte da esquerda, em qual lado do jogo estamos então, afinal?" Bem, analisando fatos, discos, declarações e etc, eu diria que o Hip Hop é a esquerda da esquerda. 

Se preocupando apenas com a sobrevivência e autoestima de suas comunidades - sem aquela barreira platônica da coerência acadêmica; quadrada, obtusa e dicotômica - , observamos o Hip Hop fazer inconscientemente a junção de práticas liberalistas, libertárias, comunistas, anarquistas, e panafricanistas. Enquanto nos "grandes debates intelectuais" uma ideologia exclui a outra, o Bronx da década de 70 (berço do movimento), nos ensinou a usar todas possíveis, retendo de cada uma o que é bom, até os dias atuais.

Sem a ingenuidade dos militantes socialistas, aceitamos que somos egoístas, e usamos esse egoísmo pra criar: batalhas, egotrips, braggadocios, diss, empoderamento. E apesar da competição financeira absorvida dos liberalistas senhores do capital, a ideia é que todo preto seja rico, todas as pessoas do gueto vivam bem; por isso as marcas de rua, as empresas de favela, um mercado criado por nós, pra nós, que entendeu que é preciso que pessoas da classe superior consumam o que é produzido aqui na mais baixa, numa espécie de gestão Robin Hood, gerando lucro e bem-estar social pras nossas comunidades; anarco-comunismo; a primeira regra é liberdade, visando emancipação (de variadas formas) de todo um povo; panafricanismo! Indo além: a pretensão hippie dos anos 60 habita nos poros dos 9 elementos da Cultura, e o desejo é pra que todas as minorias sejam respeitadas, todos os povos sejam irmãos, e toda exploração cesse - não somos ingênuos, mas nunca deixamos de sonhar!

Viu? A esquerda da esquerda. Algo espontâneo, sem a pretensão de querer ser melhor que nossos colegas mais ortodoxos acadêmicos, estudiosos, que muito tem a contribuir, e que inclusive muitos de nós agora somos também. Mas "a rua tem suas próprias leis", ideias e modo de vida. Harvard nunca vai entender - quem sabe um dia.

Por isso quando nos auto-afirmarmos comunistas ricos, reis do gueto ou libertários imortais, não se assuste! Sempre fomos isso desde Kool Herc e Bambata! O Hip Hop realmente é foda!