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por Graciane Santos
Muitos artistas cantam a realidade em que vive ou viveu ou até mesmo sem viver mas a que viu em algum momento da vida, há quem goste e quem critique. Mas a realidade é uma necessidade a ser cantada?
A maioria dos jovens que ouvem rap tem uma realidade difícil e vêem o “rap gangsta” como uma inspiração, como uma sintonia com a realidade que ele vive. Porém é necessário mais do que cantar a realidade ou vivência, cantar referência?
No cenário de hoje diversos artistas citam referências no rap, sejam referências filosóficas, bíblicas, históricas, usando técnicas linguísticas e tantas outras. A referência é tão importante quanto a realidade pois ela traz algo novo que muitas pessoas não estão acostumadas, que podem aprender, pesquisar e tirar algum ensinamento daquilo, já que muitos jovens que consomem o rap vem de uma realidade dura onde desde cedo precisam decidir entre o “
sonho e a merda da sobrevivência”. A referência vem pra ensinar o novo ou reafirmar algo, a realidade/vivência vem pra denunciar várias questões e mostrar a realidade da maioria.
Alguns exemplos de realidade/vivência é o artista
Vandal. Residente em Salvador, afirma e reafirma nas suas letras pelo que ele luta, que é o povo da periferia. Em diversos sons podemos notar isso: "
Foda-se Nietzsche, vim pra quebrar as estátuas, eu nunca li um livro minha vida é autoditada"
Outro exemplo desse seguimento é o
Mano Brown, que ao longo da sua carreira a frente do grupo
Racionais Mc's veio defendendo também está causa, trazendo não só a realidade do povo que vive em periferias mas também ressaltando a luta do povo negro, denunciando o racismo, transformando toda essa realidade para música: "
O trauma que eu carrego pra não ser mais um preto fodido".
Podemos ver também artistas que cantam referência, como
Baco Exu do Blues. Também residente de Salvador,
Diogo já vem com o codinome referente ao Deus do vinho da mitologia grega,
Baco, e traz muita referência em suas letras, veja esse pedaço da música “
Tropicália”:
Estou em uma fábula de Esopo: onde o burro é como vento que fala, faz barulho, mas não diz nada" (
Esopo vem da Grécia antiga, era um escravo que contava diversas histórias). Nesse trecho
Baco consegue trazer essa referência e dizer que algumas pessoas falam demais e nada fazem, tentando mostrar esse ensinamento ao público trazendo
Esopo como referência.
Não muito longe também encontramos o rapper
Coruja Bc1 com um dos seus versos no "Poetas no Topo 2": "
Saí do barco e andei sobre as águas, me chamem de Pedro. Sem explicação pra física, enlouqueci Isaac Newton". Quando fala "andou sobre as águas", ele quis dizer que o fenômeno a física não pode explicar, logo, enlouqueceu
Isaac Newton (considerado um dos maiores físicos da história).
Bc1 também pôde atribuir esse trecho as linhas dele, inexplicáveis, exaltando o seu talento.
Entretanto, temos artistas que conseguem cantar esses dois segmentos com facilidade, como
Djonga, siga o trecho do perfil “
Olho de Tigre”, que saiu pela produtora
Pineapple: "
Quem tem minha cor é ladrão. Quem tem a cor de Eric Clapton é cleptomaníaco".
Djonga afirma nessa linha que quem tem a sua cor, é taxado, considerado como criminoso pela cor da pele, já quem é branco pode facilmente desviar esse tipo de preconceito alegando que é cleptomaníaco, um distúrbio psicológico que faz com que a pessoa sinta a necessidade incontrolável de roubar.
Por fim, o rap tem diversas vertentes abordando vários temas, assim agradando cada um o público alvo. Alguns “cagam” regras dizendo que rap tem que falar de realidade, outros brigam defendendo que precisam mostrar referência mas o rap é livre, é ritmo e poesia e cada um tem sua poesia dentro de si.
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