Visão

6/recent/ticker-posts

New School, Old School e o Rap Nacional em Perspectiva (Editorial Dez/2017)



Para dar início a nossa nova fase no Sintonia Rap, começamos por um tema polêmico e constante no cenário Hip Hop: as mudanças no rap nacional.

Toda vez que damos uma olhada nas publicações e discussões em grupos como o Rap Crú ou da ODB, a cada vez que algum artista de coletivos como Damassa Clan e 1 Kilo lançam novos singles e a cada vez que se citam versos de artistas como Eduardo Taddeo, é certo que podemos esperar longas discussões sobre os caminhos que o rap nacional tem seguido. Surgem falas em ataque aos "guardinhas do rap" ou à "nova geração que esvazia o movimento" e ficam nítidos dois grandes grupos que se colocam em contraponto: aqueles que tem preferências pela Old School e aqueles que tem preferências pela Nova Escola.

Nessa última década que agora se encaminha para a sua conclusão, uma série de fatores mudaram a sonoridade e estética do rap nacional. Entre eles, podemos considerar a ascensão do Emicida, que após o lançamento de um dos maiores clássicos do rap brasileiro em 2009, construiu uma carreira e um selo que possibilitou a profissionalização do rap nacional, de tal maneira que é associado constantemente a Jay Z. Outro dado foi o crescimento e atual fase de desestabilização da crew Damassa Clan, que no início da década atingiu um grande público dentro e fora do gênero, mas que atualmente revelou adotar posições ideológicas que incorrem diretamente contra os princípios do hip hop, como é notável na linha: “Tu já percebeu que aqui se corta o axé”. Atualmente, os dois últimos anos tem sido de grande agitação na cena. É visível uma influência maior do rap gringo nas batidas, sendo o surgimento de um trap nacional outro fator determinante.

O debate racial, pilar essencial do nosso rap desde o seu início, foi novamente retomado de maneira explícita por artistas como Baco Exu do Blues, Djonga e Raffa Moreira, esse último um dos maiores expoentes do trap e que apontou diretamente para o branqueamento que o cenário passava nos anos recentes. 

Além disso, o conceito de MOB, da maneira que foi estabelecido por crews como A$AP MOB, Pro Era e Odd Future, que compreende não só a música, mas a produção audiovisual, o design, as roupas e todo um estilo de vida, também chegou ao Brasil, como é perceptível com o Bloco 7, a Recayd Mob e, em sua encarnação mais original, na Soundfoodgang, que partindo de gêneros como o vaporwave, o plug e o drill tem feito composições genuínas, que retratam suas próprias quebradas e com uma grande excelência na produção dos clipes.

Mais do que defender ou atacar esses artistas, nosso objetivo no Sintonia Rap esse mês é entender mais a fundo quais são as diferenças entre Nova Escola e Velha Escola e como podemos entender essas mudanças tanto naquilo que eventualmente prejudica o movimento Hip Hop quanto aquilo que favorece sua ampliação. Em nosso edital de dezembro, "New School, Old School e o Rap Nacional em Mudança", nossos artigos destacam a ascensão dos LGBT's no movimento, as mudanças em relação ao papel das mulheres e da população negra no movimento, qual foi o contexto político que favoreceu essas mudanças e, efetivamente, o que mudou na música em termos de letras, levadas e batidas.

Para dar conta de um assunto tão complexo, nossa equipe está trabalhando com força total e trará convidados de peso na cena para nos contarem sobre suas experiências.

Já estão curiosos? Nós também! Confira todas as novidades que serão lançadas diariamente no portal Sintonia Rap a partir da próxima segunda-feira (27).

Atenciosamente,
 Equipe Sintonia Rap