Visão

6/recent/ticker-posts

Mademoiselle Lulu Monamour fala sobre ser o primeiro gay no rap nacional em entrevista exclusiva



Para dar início à nossa Coluna Purpurina, que tem como objetivo levar ao público trabalhos produzidos por LGBT’s na cultura Hip Hop, apresentamos nessa semana a entrevista com Mademoiselle Lulu Monamour, ninguém menos que o primeiro gay do rap nacional, com exclusividade para o Sintonia Rap.
Natural de Goiânia, Lulu está ativa na cena desde 2010, produzindo um rap totalmente gangsta e com letras que denunciam e combatem a homofobia, a transfobia e o machismo tendo como referências artistas como Dina Di, Negga Gizza, Negra Li, Rúbia RPW, Lil Kim, Eve, entre outras.

Em 2016, Lulu lançou seu álbum: “Futuro em Rima”. Com 24 faixas, a MC segue sua luta contra todo e qualquer tipo de opressão, critica a cena tanto em relação a artistas com posturas opressoras quanto outros rappers LGBT’s; mas também abre seu coração e fala sobre seus amores e vida pessoal.



Em falas sempre polêmicas e assertivas, Lulu na entrevista sobre seu começo de carreira, sobre o descaso dos artistas com seu trabalho, o que pensa sobre a homofobia e transfobia na cena e pede para que outros rappers LGBT’s serem mais responsáveis em suas posturas: “não dá para ficar cantando sobre fogo no cú e ser riquíssima ou ser dona do império fora da nossa realidade brasileira, o país em que mais se matam LGBT’s”.

Sintonia: Como foi o seu começo de carreira sendo LGBT? Como você sentia a cena na época?         
Lulu: Meu começo de carreira veio a 7 anos atrás, em 2010, quando comecei a escrever as músicas com sample de artistas internacionais mas com letras minhas, o que é comum. E nessa época, onde eu não tinha tanto espaço midiático como outros  artistas como Lia Clark, Pabllo Vittar, Glória Groove e Rico Dalasam tem, era bem mais difícil. Eu acabei me inserindo nesse movimento (o rap e o Hip Hop) que não inclui esses artistas, que produzem outros estilos musicais. Então é ainda, e foi bem mais difícil, a inclusão e disponibilidade de trabalho, de mostrar o trabalho justamente pelo preconceito que essas pessoas, já inseridas a muito tempo, já tinham e ainda mantém.

Sintonia: Ainda sobre esse começo, você sentiu que em algum momento teve algum apoio, sentiu que alguém te ajudou ?
Lulu: Não houve apoio inicial nenhum. Tudo foi feito inicialmente por mim. Só depois da projeção midiática é que os artistas da cena do rap se interessaram em conhecer, ouvir e conversar, o que ainda é minoria hoje: muitos deles não estão nem aí. Eles preferem criar e tirar suas próprias conclusões sobre mim e o meu trabalho à maneira deles.

Sintonia: Deve ser super complicado isso! Na sua visão, por que eles não estão nem aí?
Lulu: Porque são egoístas. Cantam e pregam sobre união em suas letras, mas adoram uma boa competição. Aqui mesmo são todos panelinhas. Grupos de MC’s ou até rappers já tem uma panela que se apoia entre eles mesmos: só fazem eventos para eles, com eles e para o público deles. Fora que preferem também apoiar e pagar cachês altíssimos para outros rappers do Brasil mais populares enquanto os daqui eles fingem não conhecer, ouvir e não convidam para tocar. Triste né?

Sintonia: Sim, triste. Inclusive por afetar seu trabalho.
Lulu: Não afeta, porque sigo meu trampo sem olhar para isso. Foco em mim e no meu trabalho. Não vejo competição nem concorrência: sou a primeira e meu trampo é único.

Sintonia: Do começo de sua carreira para cá, você sentiu que houveram mudanças no rap nacional no sentido de aceitarem mais os LGBT’s da cena? O que pensa sobre isso?
Lulu: Não. E nunca haverá. O rap é machista e homofóbico. São poucos dentro do movimento que querem ver um rapper LGBT dar certo na cena, mas as mudanças começam conosco: fazendo sons que libertem ideias, abram cabeças e quebrem paradigmas.

Sintonia: Como você enxerga a carreira de outros rappers gays que estão crescendo na cena como Rico Dalasam e Glória Groove?

Lulu: Cada um no seu quadrado, respeitando o próximo. Mas não dá para ficar cantando de fogo no cú, de ser riquíssima ou de ser dona do império fora da nossa realidade brasileira, o país em que mais se matam LGBT's. Não dá para ficar mascarando de colorido e arco-íris se a nossa bandeira escorre sangue diário. Então, espero que esses artistas abram seus olhos pra nossa verdadeira realidade, e que façam trabalhos que orientem ou dediquem as ideias à memória dos que já se foram por serem como nós, ou para o que ainda estão aqui. Essa é a minha realidade, a sua e a nossa também. O rap é isso: a realidade.
Mas no mais, cada um no foco do seu trampo, na sua estrada. Rap é corrente, não é panela. E o Rico, por ser o segundo rappers gay do Brasil deveria saber que não existe força maior do que a união. Exposição midiática pode ser para poucos, mas não é o que o rap quer. A rua sabe bem quem é dela de verdade e quem nela nunca vem. Eu gostaria de ver meu trampo mais comercializado e com mai projeção, quem não? Mas não é a prioridade, nunca foi. A ideia é fortalecer as minorias com letras pedindo respeito não se esquecendo das origens, das vivências e sofrimentos dos LGBT's. E infelizmente, esse ainda não é o material desses artistas. A faixa "Aceite-se", por exemplo, é açúcar comparado ao amarga da realidade gay brasileira. 
Além disso, qualquer rappers que se acha maior que o movimento se perde. O rap é maior que qualquer MC que seja.
Só deixando claro que Rico e Glória são Hip Hop. Estão longe de serem rap. Mas aguardo um dia para ouvir um dia um rap deles. Para falar a verdade, acho que a Groove é a mais próxima da ritmologia nessa nova geração.Sou velha guarda, mano, mas amo o "groove" da Glória.

Sintonia: Quais mensagens você gostaria de passar nesse momento para seus fãs e para quem acompanha seu trabalho?
Lulu: Que vocês acreditem em primeiro lugar que o trabalho de vocês é especial e único. Que ninguém pode dizer que não vai dar certo e não vai para frente. O primeiro passo é acreditar em você, acreditar que você é capaz. Para que curte meu trabalho, fiquem ligados que muitas novidades estão por vir incluindo vários videoclipes, um DVD com meu show ao vivo e que comprem meu material, não apenas baixem as músicas gratuitas: isso ajuda muito o artista, faz mais do que bem para fortalecer o trabalho independente.

*Após a entrevista, a equipe do Sintonia Rap procurou a assessoria de imprensa de Glória Groove a respeito da menção de seu trabalho na entrevista, que preferiu não se pronunciar. A assessoria de imprensa de Rico Dalasam respondeu: "Muito lindo o que ela disse. Mas quem está ocupado trabalhando não tem tempo de fiscalizar o trabalho de ninguém. Luz!".


Conheça mais sobre o trabalho de Mademoiselle Lulu Monamour AQUI.
Os álbuns, DVD's, camisetas e bonés da rapper podem ser encomendados através do inbox da artista no Facebook ou através de e-mail.