- por Karen Oliveira
“Escurecer os
fatos” sobre o HipHop pode parecer redundante para quem conhece a origem desta
cultura. Entretanto, os debates calorosos e emocionados em torno do debate
racial e sua relação com este movimento, atesta a necessidade de reafirmar sua
origem preta e periférica. Não se trata de uma tarefa fácil se levarmos em
consideração a complexidade da cultura e a diversidade de vertentes presestes
em cada elemento que compõe o HipHop. Além do RAP, musicalidade que reúne os
dois elementos de maior visibilidade dentro do Hip Hop: o DJ e o MC (Mestre de
Cerimônia), existem o Breaking, o Grafite e o conhecimento. Este ultimo,
considerado o quinto elemento, e que perpassa e entrelaça todos os outros.
Para tentar da
conta da complexidade da cultura queHop e sua relação com as lutas raciais é
preciso voltar às origens e a pluralidade de histórias que marca o legado da
cultura que hoje permite a comunicação entre as periferias de todo o
mundo. Considerado o pai do Hip Hop, é o
DJ e grafiteiro Jamaicano, Kool Herck, em parceria com sua irmã Cindy Campbell,
que vai arrastar para as Block Parties (Festas de bairro) do Bronx, bairro
periférico de Nova York , nos Estados Unidos, àqueles que depois seriam
considerados os quatro elementos do HipHop, em 1973. Mas é o Áfrika Bambaataa
que percebe a relação entre DJs, MCs, B.Boys / B.Girls (dançarinos de Breaking)
e Grafiteiros, num movimento em direção ao protesto e ao fortalecimento de uma
identidade de raça e classe. Bambaataa batiza a unificação dos elementos como
Cultura Hip Hop e introduz o “conhecimento” como elemento que relaciona e
fortalece os demais.
O movimento de
Afrika Bambaataa não é independente de um posicionamento político, ao
contrário, é uma iniciativa que busca combater as brigas entre gangues no
Bronxs, que promovia o extermínio entre a própria periferia. Bambaataa,
inspirado nos princípio do partido Panteras Negras, cria a Zulú Nation,
canaliza as rixas para as batalhas, impulsiona a valorização da cultura e
identidade negra e afrolatina, e promove um trabalho social, que tenta dar
conta da ausência da assistência Estatal.
No Brasil, a
segregação racial e a influência da cultura de matriz africana na diáspora,
resultante da colonização e do sequestro de africanos para serem escravizados
também está no cerne do movimento Hip Hop. A migração é um aspecto importante
desse processo. É Nelson Triunfo, dançarino da Black Music quem faz um processo
semelhante ao de Kool Herk no Brasil. Pernambucano, migrante, Triunfo vai
fomentar a disputa pela rua através da dança, na década de 80 em São Paulo.
Enfrentando,
inclusive, a repressão do final da ditadura, o “homem árvore”, apelido
atribuído à Triunfo por causa da sua estatura e o Black Power, vai se inspirar
nas ideias da Zulú Nation, para unificar os elementos do HipHop, no Brasil.
Para alguns, é como se Triunfo desse sentido e significado as diputas dentro
elementos e ao encontro dos mesmos com
a rua. Em 1993, Triunfo vai fundar a “Casa do HipHop”, em Diadema, São Paulo,
unindo a formação sobre às prátics culturais, à outros cursos de formação e
capacitação da periferi. Estudados como movimento ou individualmente, cada
elemento da cultura HipHop vai carregar como aspecto identitário o protesto de
forma criativa e artística.
É importante,
no entanto, perceber que a conformação do racismo nos Estados Unidos e no
Brasil se aplicam de forma distinta. Isso vai contribuir para que apesar da
referência no berço do movimento, a cultura HipHop no Brasil se destaque por
sua originalidade. Nos EUA, o racismo
segregou de forma explicita a população negra, definindo o lugar e os direitos,
ou a negação dos mesmo, num projeto enfrentado pela resistência de gerações. Já
no Brasil, um projeto de limpeza etnica, a eugenia, se deu a partir da
missigenação forçada através do estupro de mulheres negras, inclusive por
Padres que “adotavam” e ofereciam educação as crianças mestiças. Neste caso, o
processo de identificação racial, que é uma ação sociológica e política (e não
biológica) vai se dar de maneira muito mais complexa. O próprio Nelson Triunfo e o Mano Brown,
negros de pele clara, tem sua identidade racial colocada em debate
constantemente, por quem não entende este processo.
A unanimidade
no encontro entre os elementos do HipHop em sua fundação seja nos Estados
Unidos ou no Brasil, está expressa na condição de vida de seus adeptos. O
HipHop dá sentido a vida da juventude pobre, preta e periferica, inconformada
com o descaso e violência do Estado para com o seu povo. A resistência a
repressão policial, ao descaso do Estado e a falta de política pública, a
valorização da beleza e da cultura negra e o incentivo a luta por um futuro
justo são característica de hiphopers independente do elemento que represente.
São estes os fatos que vamos escurecer a cada 15 dias aqui no Sintonia Rap. Acompanhe!
“Não é a batalha que te faz melhor, mas o
legado que você deixa, a sua contribuição para cultura” B. Banks, presente!
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